Ao reestrear no Coritiba com gol em quatro minutos, Alef Manga vislumbrou o futuro no clube: “Agora vai dar tudo certo”, pensou. Um mês depois, ele descobriu que estava fora dos planos para 2025.
Em entrevista de cerca de 40 minutos ao UmDois Esportes, o atacante falou sobre os momentos conturbados que teve antes, durante, e depois da punição por ter aceitado receber R$ 45 mil para levar um cartão amarelo em um jogo do Coxa no Brasileirão de 2022.
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O jogador relembrou a polêmica envolvendo o head esportivo William Thomas, o ex-diretor técnico do Coxa, Paulo Autuori, e o ex-CEO, Carlos Amodeo. Manga foi o pivô de uma crise interna que resultou na saída de Amodeo.
Já pensando no futuro, o atacante também falou sobre a consulta feita pelo Vasco, time dirigido justamente pelo ex-CEO coxa-branca, e contou que se sente preparado para voltar a jogar na Série A, seu objetivo máximo no momento.
Confira a íntegra da entrevista com Alef Manga
Como foi receber a notícia de que não seguiria no Coritiba?
A notícia pegou todo mundo de surpresa. A gente esperava que teria uma conversa para uma renovação, depois que acabasse a Série B, e simplesmente anteciparam minhas férias, sem abertura para conversar.
Eu estava no treino, eles chamaram um por um [os dispensados]. Eu achei que seria uma conversa para ir para o jogo [contra a Chapecoense]. Achei que teria oportunidade. Mas descobri que estava nos planos [do Coxa] antecipar minhas férias. Foi dito que as portas estão abertas para retornar para o clube futuramente.
Eu fico chateado porque eles sabem do meu potencial, de poder ajudar o Coritiba. Por mais que só estivesse cumprindo tabela, eu poderia mostrar algo desde que retornei. Mas nem para isso me deram abertura. Eu retornei, Deus me abençoou com um gol, mas depois não tive sequência. Ficou um clima meio chato.
E você chegou a se despedir dos jogadores? Como era o clima com o elenco?
Nunca tive problema com ninguém, nem com jogadores, nem com treinadores. Problemas de relacionamento, nunca tive. Assim que recebi a notícia, a maioria já tinha ido embora, não consegui me despedir direito. E aí ficou um clima meio assim, porque muita gente não entendeu, ficaram sabendo através da rede social. Alguns jogadores me mandaram mensagem, me desejaram boa sorte.
Durante o ano, você foi o pivô de uma confusão dentro do clube entre Paulo Autuori e Carlos Amodeo, que culminou na saída do ex-CEO. Como foi esse momento?
O Amodeo foi um cara super importante, que sempre me defendeu, me ajudou, desde a reativação do meu contrato. Eu não sei como ficou o ambiente porque eu não estava treinando mais lá. E quando sai o vídeo, ficou essa guerra, mas soube por colegas que afetou sim o ambiente, porque eu não tinha acesso nenhum ao CT.
E nessa preparação, o Coritiba deixou muito a desejar. Se tivessem me deixado no CT, teria mais estrutura. No Couto não tem muita estrutura [para treinamento, diferente do CT].
E você chegou a conversar com o Autuori depois do vídeo?
Conversei pouco com ele, mas o clube sempre falou que estava contando comigo, que sabia do atleta que eu era e que eu poderia ajudar. E até aí tudo bem, começamos a fazer os treinos, mas depois mudou.
Quando você entrou em campo pelo Coritiba e marcou logo no primeiro jogo, o que passou pela cabeça?
Quando fiz o gol, eu só pensei ah agora vai dar tudo certo, vai voltar o Alef Manga como era antes. Mas nos outros jogos não recebi tantas oportunidades, me falavam que estava acima do peso e não podia jogar um tempo inteiro. Mas cada um conhece o seu corpo, deveriam ter conversado comigo. É algo que fiquei chateado. Mas acho que quando um jogador volta, faz o gol da vitória e não é utilizado em outros jogos, fica um ponto de interrogação.
Voltar a jogar pelo Coxa foi uma sensação de felicidade, nenhum jogador de futebol quer passar o que passei. Ficar longe dos gramados é muito ruim, passou um filme na cabeça por tudo o que aconteceu, meu nome o ano inteiro nessa situação. Entrar e fazer o gol, acho que ali foi o dia mais feliz na minha vida. Só eu sei o quanto trabalhei, fazendo treino dentro do clube e com preparadores particulares.
Você não conseguiu se despedir da torcida, que pediu o seu retorno em vários jogos. Que mensagem você deixa?
Infelizmente queria estar muito nesse jogo de sexta-feira, mas as férias foram antecipadas. Não foi isso que a gente estava planejando. Independente se eu ficasse ou não, eu queria estar no último jogo da Série B com o nosso torcedor. Eu fico grato com tudo o que a torcida fez, gritaram meu nome quando eu nem estava jogando, eles sabem do meu potencial dentro de campo. Eles sempre fizeram festa e sempre me enviaram mensagens positivas nas redes sociais. Fica minha gratidão.
Em 2023, você acumulava 13 gols em 25 jogos, três a menos que em 2022, quando foi a melhor temporada. Aí você é punido com o caso do cartão amarelo e deixa o futebol por 360 dias. Você sente que pode ter alguma culpa pelo rebaixamento do Coxa?
Eu acho que é um dos momentos que eu posso sim ter prejudicado, mas não tenho total culpa. Sei que prejudiquei em alguns momentos e alguns jogos, mas não pode só me culpar pelo erro. Muitas pessoas estavam lá também. Mas são águas passadas. Errei, paguei pelo meu erro, e graças a Deus retornei fazendo gol. Tenho que pensar no futuro, já estou bem mais tranquilo em relação a isso.
E neste ano, acredita que toda essa indefinição entre voltar ou não pode ter prejudicado o ano do time?
Em alguns momentos acredito que isso possa ter atrapalhado, eu não estava no dia a dia com os companheiros do clube. Meu nome sempre saía, eu acompanhava, e não podia fazer nada.
Você sai do Coritiba com alguma mágoa?
Fica um sentimento de tristeza por essa situação e a forma que agiram comigo em não renovar o contrato. Acho que todo mundo poderia ter esperado acabar a Série B para sentar e conversar. Mas fica a minha gratidão por tudo o que fizeram por mim, principalmente às pessoas que passaram por aqui e foram muito importantes para a minha carreira. Dentro de campo pude fazer gols e ajudar o clube em diversos momentos. Mas como o clube tomou essa decisão, acho que são águas passadas e tenho que seguir em frente.
Pensa em um retorno ao Coritiba no futuro?
Eu penso em voltar futuramente para a cidade de Curitiba, porque é maravilhosa para morar. Se Deus permitir voltar para o Coritiba vai ser com o maior prazer. Se eu for para outro clube também, vida que segue.
Com a procura do Vasco, você se sente preparado para voltar a jogar pela Série A?
Me sinto preparado para a Série A, quero muito voltar a jogar. Não sei qual camisa vou vestir, mas a tendência é o mercado da Série A. Claro, sem fechar as portas para a Série B. Mas tenho certeza que ano que vem posso estar na Primeira Divisão novamente.
Os meus representantes estão resolvendo isso. A gente fica feliz pela notícia, agora que saí do Coritiba, de receber consulta do Vasco, que é gigantesco, com torcida apaixonadíssima. Eu deixo com meus representantes e sigo trabalhando nessa reta final porque 2025 está logo aí e preciso fazer minha parte física. Mas fico muito feliz.