Entrevista com Marianna Libano, candidata à presidência

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O Coritiba terá pela primeira vez na história uma mulher candidata à presidência da associação do clube. A advogada e empresária, Marianna Libano, 34 anos, é sócia desde 2010 e é a cabeça da chapa Eternamente Coxa. As eleições acontecem em dezembro.

O poder da associação no atual contexto do clube, uma SAF, é muito reduzido em relação ao último pleito, quando Marianna fez parte do G5 do candidato João Carlos Vialle.

Agora, a associação possui apenas 10% do clube, que é administrado pela Treecorp Investimentos. Ainda assim, Marianna rechaça que a eleição seja apenas simbólica.

O UmDois Esportes conversou, nesta quinta-feira (28), com a candidata ao pleito coxa-branca. Ela falou sobre o processo de criação da chapa, a importância de ter mulheres dentro do futebol e trouxe sua visão sobre os poderes da associação em um contexto de SAF.

Durante o período eleitoral do Coritiba, o UmDois trará entrevistas e conteúdos com os candidatos das chapas Coritiba Independente e Eternamente Coxa. As eleições do Coxa acontecem no dia 27 de dezembro, das 9h30 às 16h. 

+ Bate-chapa na eleição: conheça a Coritiba Independente

Confira a entrevista na íntegra.

Como foi o processo de criação da Eternamente Coxa?

Desde sempre, na minha vida política do Coritiba, tenho um perfil de apoiar, estar disponível para ajudar, mas ao mesmo tempo quando achar que os interesses do Coritiba não estão sendo respeitados, me colocar no papel de cobrança. E esse perfil é comum a todos nós da chapa.

Quando perdemos as últimas eleições, mantivemos esse perfil durante os quatro anos da gestão atual. E a insatisfação só foi crescendo com os rumos que o Coxa estava tomando, com a falta de transparência na venda da SAF. É até ruim fazer campanha hoje, porque às vezes nos perguntam alguma coisa e a gente não tem resposta, porque realmente não sabemos.

E quando foi se aproximando a eleição, decidimos entrar nesse processo eleitoral e começamos fazer essa conversão de ideias e esse movimento acabou se expandindo.

Qual é a importância dessa candidatura para todas as torcedoras mulheres do Coritiba e do futebol em geral?

Esse é um papel que eu acho importante. A gente ter mulheres em cargos que normalmente são ocupados só por homens. Principalmente pelo sentimento de pertencimento. O pertencimento das crianças que veem a gente, de outras mulheres, elas se sentirem seguras.

Para a gente ter cada vez mais mulheres em cargos diretivos. Ainda que nesse mundo ele seja majoritariamente machista. Mas não é por isso que o nosso grupo optou pelo meu nome.

Viram no meu nome uma boa possibilidade de um ponto de equilíbrio. No sentido de ter uma cobrança firme, honesta, transparente. Mas, sem aquele rótulo de agressividade. Que normalmente vem de uma oposição. Eu acho que meu nome veio como um contraponto a isso. De uma forma firme, mas sem precisar ser caricato.

E nesse novo contexto de SAF, qual é o papel e poder da associação em relação ao Coritiba?

Como eu falei, a gente não tem acesso a muitas informações. O que a gente tem hoje bem claro é que o papel da associação é principalmente o de fiscalizar o contrato que foi feito com a Treecorp e cobrar os pontos que dizem respeito ao clube.

De fato, a gente não sabe exatamente o que a gente pode cobrar.

Infelizmente, a gente só vai conseguir descobrir se entrar lá, se puder ter acesso a esse contrato, sem amarras, sem venda e colocar na ponta do lápis o que compete à Treecorp. E além desse papel de fiscalização e cobrança, entra também o de promover a cultura coxa-branca, porque quem comprou o clube mal sabe o que é o Coritiba.

E não daria para dizer que é uma eleição simbólica, por conta desse poder reduzido da associação sobre o clube?

Eu não diria que ele é simbólico, porque apesar de ser pouco, 10% é muito pouco, mas é tudo o que a gente tem, é tudo o que a torcida ficou hoje do clube, o que a torcida tem acesso, o que a associação vai poder gerir.

Nós temos um amor incondicional, eles têm a preocupação financeira. Então, o papel da associação não é apenas simbólico, ele mexe com o amor de muitos torcedores.

E em relação ao que é feito agora pela associação, o que você acha que vocês poderiam fazer diferente? Como vocês veem esse momento atual do Coritiba?

Eu acho que as pessoas que estão hoje à frente da associação fazem parte do grupo que vendeu o nosso clube para a SAF. Então, eu acho que elas pouco têm legitimidade para cobrar, acabam sendo parciais nas cobranças.

Por exemplo, o Coritiba associação recebe R$ 40 mil mensais a título de royalties da SAF. Essa é a renda da associação hoje. As pessoas que venderam o clube aceitaram esse tipo de negociação. Então como que você pode cobrar alguma coisa, falar que está errado se você aceitou isso?

Acaba se confundindo a cobrança, a fiscalização, porque eles já aceitaram isso. Então, hoje o papel, apesar de já ser difícil, já ser pequeno, ainda você ter as pessoas à frente da associação, pessoas que não têm a cara de cobrar, porque já aceitaram tudo aquilo, eu acho que acaba virando um mais do mesmo.

E como candidatos à associação, vocês veem alguma possibilidade de acontecer no Coritiba o que aconteceu no Vasco? De a associação retomar o controle do clube em um contexto de uma repetição dos fracassos em campo no futuro?

Falar que pode acontecer igual ao Vasco, neste momento em que não temos acesso a todas as informações, é temerário e é irresponsável.

A situação do Vasco era diferente, a 777 não estava cumprindo com obrigações contratuais, eles não estavam pagando salário, estavam atrasando diversas parcelas e acordos que eles tinham feito no contrato. E até onde a gente sabe, não é o nosso caso.

Agora, dizer assim, que isso não pode de forma alguma acontecer, também é errado, porque a gente não tem acesso ao contrato. Então, vai que existe alguma coisa que o Coritiba pode ainda brigar. O Coritiba hoje é o quê? Ele é um clube de futebol. Você quer que um clube de futebol esteja apenas com o seu administrativo ok, com o seu patrimônio ok, com o marketing do time ok? Eu acho que isso é muito pouco para um clube de futebol.

A Treecorp precisa entender que, claro, eles investem em outras empresas, eles têm esses fundos de investimento com outros negócios, mas o futebol é diferente. O futebol precisa da bola na rede. De fato, a gente não tem gerência. A gente não pode dizer ‘vamos entrar com uma liminar e conseguir retomar o poder’. Isso, de novo, seria irresponsável e temerário.

Mas que a gente vai promover os interesses do Coritiba, em primeiro lugar, a todo momento. Aí a forma que a gente vai fazer isso, seria, a princípio, com uma aproximação cuidadosa, uma aproximação sem estardalhaços, sem apontar dedos, mas se não surtir efeitos, se realmente não tiver resultados, a gente vai precisar de outras ferramentas.

Falando um pouco do contexto dessas eleições, a gente vê que houve uma divisão entre as três chapas concorrentes em 2021. A chapa de vocês é uma continuação de ideias do Samir Namur ou da do Vialle? Com quem vocês se identificam mais?

Não, nós formamos esse grupo com pessoas que têm princípios iguais, no sentido de sempre colocar os interesses do clube em primeiro lugar.

Como todas essas pessoas têm uma vida política ativa no clube há bastante tempo, a consequência disso é você escolher um lado. Temos pessoas que foram apoiadoras do Samir, do Vialle, do próprio Vilson, mas não somos dissidentes de nenhuma dessas chapas.

De fato, eu fui amiga pessoal do Samir por alguns anos, a gente, eu e meu marido, cobrava tanto ele quando ele estava à frente do clube, que isso acabou custando a nossa amizade. Hoje, eu não tenho mais contato com ele, faz anos que eu não falo com ele, desde 2022. E tanto a gente teve esse rompimento, que na última eleição eu estava do lado do Vialle.

E não existe essa ligação da chapa com o Samir, mesmo que de forma não oficial?

Não, de forma nenhuma. Tanto que eu não falei com o Samir nessas eleições, o Juce não falou com o Samir, eu acho que ninguém falou com o Samir. A gente teve pessoas que fizeram parte do conselho dele vindo com a gente nesse momento, mas são pessoas que justamente tem esses princípios de cobrança e fiscalização e que querem ver o bem do clube.

Não queremos nos perpetuar num poder que nem temos ou se aproximar simplesmente da SAF, não é o nosso perfil. São pessoas que realmente querem o clube bem e o nosso clube é um clube de futebol, então são pessoas que tem esses valores próprios, esses valores em comum.

E houve alguma tentativa de unir forças em uma só chapa para essa eleição?

Teve. O nosso primeiro movimento, antes da gente entender se a gente lançaria efetivamente uma chapa ou não, a gente foi convidado a participar de uma reunião com o atual presidente do Conselho Deliberativo e o presidente da associação, que hoje acumula esses dois cargos.

Então, fomos nessa reunião, que foi intermediada até por um ex-presidente, o Giovanni Gionédis, e tentaram fazer uma união de todos, mas nosso grupo foi muito firme no sentido de algumas pessoas não poderem estar nessa união.

Então, a gente colocou alguns nomes como empecilho, especialmente no nome dos dois ex-presidentes que passaram nesse mandato, no nome do Glenn Stenger e do Juarez Moraes e Silva. E daí, por isso, a composição acabou não saindo.

Depois, quando surgiu um pouco de movimentação de uma outra parte do grupo do Vialle para também montar uma chapa com eles, nós tentamos a aproximação para justamente ter uma chapa única. Mas como eles acabaram abarcando muitas pessoas da situação, acabaram não fazendo essa união com a gente.

Para finalizar, gostaria que você reforçasse as propostas da chapa Eternamente Coxa para os torcedores.

A nossa chapa vem com o principal papel de cobrança e de fiscalização do contrato de venda do Coritiba. Um papel muito importante de se colocar de forma honesta e direta com o torcedor.

Pra gente ter uma conversa franca com o torcedor a todo momento. Com muita transparência do que está acontecendo com o nosso clube. Claro, respeitando cláusulas de confidencialidade.

Mas, para além disso, a gente vem com o objetivo de realmente resgatar a nossa cultura coxa-branca, com ações sociais, jantares comemorativos, fortalecer os consulados. A gente gostaria muito de explorar outros esportes com a marca Coritiba.

Também tem a reforma do estatuto, queremos construir na base da conversa, com comissões específicas dentro do conselho para discutir pontos. Comissão de patrimônio, comissão de marketing, comissão de sócio, comissão da mulher.

Pretendemos instituir, dentro dessas comissões do conselho, comissões mistas que seriam não apenas com conselheiros, mas também com sócios da associação para que eles também possam participar, também tenham voz ativa dentro da sua melhor área de interesse.

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