O dólar subiu mais de 1% ante o real nesta quarta-feira (26), voltando à faixa dos R$ 5,80. O desempenho colocou a moeda brasileira com o pior desempenho do dia numa cesta de 34 divisas analisadas.
Apesar de um peso negativo generalizado sobre a maioria das moedas, o câmbio mais deteriorado no Brasil sinaliza mau humor doméstico além dos fatores externos, apontou Breno Falseti, gestor de investimentos e sócio da Rubik Capital.
“Movimentos recentes do governo têm gerado perda de governabilidade e, naturalmente, de popularidade. O ambiente se torna mais arriscado, principalmente ao considerarmos a iminência da eleição presidencial e os desdobramentos fiscais”, observou Falseti.
Ainda assim, a divisa norte-americana acumula queda de mais de 6% neste ano.
Emerson Junior, head de câmbio da Convexa Investimentos, destaca que a alta robusta vista no final de 2024 se deu por conta de temores com a economia dos Estados Unidos após a posse de Donald Trump e, sobretudo, o cenário fiscal.
Com a postura mais moderada do republicano no início de seu novo mandato, a moeda perdeu força.
Porém, nesta quarta, foram exatamente esses dois fatores que voltaram a pautar o temor dos investidores.
“Ele se elegeu e não concretizou as ameaças logo de cara, aí o dólar começou a perder força. Aqui, por outro lado, o fiscal não mudou. Agora Trump começou a dar as cartas e essa incerteza deu uma boa esticada no dólar. Mas, enquanto isso, o fiscal não deixou de ser o fiscal”, disse Junior.
Para o head de câmbio da Convexa Investimentos, o receio com contas públicas no momento gira em torno da queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode acabar usando novas medidas expansionistas para recuperar o espaço perdido com o eleitorado.
“A gente provavelmente vai ter um governo mais gastão daqui até o final do mandato. Então, não me surpreenderia ver um dólar mais defensivo nos próximos dias”, concluiu.
As mais recentes pesquisas de opinião apontam para a queda brusca da popularidade do governo Lula, traçando uma rota turbulenta para a reeleição em 2026.
Mais cedo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse ser uma “imbecilidade” o Banco Central (BC) utilizar dos juros para controlar a inflação e defendeu que o governo continue desembolsando dinheiro para empurrar a atividade econômica.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, aponta que o dia já havia começado com uma tendência de dólar mais forte frente a todas as moedas, após a Câmara dos Representantes dos EUA aprovar um pacote de corte de impostos.
Isso porque incentivo fiscal acaba gerando risco de pressões inflacionárias, e com preços pressionados, os juros podem ficar mais altos por mais tempo nos EUA, fortalecendo a posição do dólar.
“Começou o dia já com esse pano de fundo, mas quando o Marinho fez declarações a favor do governo subir gastos e críticas duríssimas ao Copom, a preocupação fiscal e com ingerência política no BC voltaram à tona, fortalecendo a queda do real”, avaliou Veronese.
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