A proposta de acabar com a escala 6×1 para os trabalhadores “vai ter um tempo de transição” para os empregadores, disse a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) em entrevista à CNN.
Hilton é autora de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa acabar com escalas em que se permite trabalhar por seis dias seguidos para folgar um.
“O empregador vai ter o tempo de transição, vai ter o tempo de adaptação – mas ele não pode fugir”, comentou Hilton ao Bastidores CNN (de segunda a sexta, das 12h às 15h) nesta sexta-feira (15), após participar de uma manifestação em São Paulo em apoio à proposta.
Ao falar em não poder “fugir”, a deputada se referia a não deixar brechas para que o fim da escala – se aprovada – não seja cumprida.
“Essa mudança vai ser gradual. O texto prevê um tempo, e esse tempo pode ser adaptado a depender das conversas que nós façamos com os setores, para entender a dinâmica dessa mudança“, declarou.
O único ponto de debate travado por Hilton é que uma redução na jornada de trabalho não pode significar uma redução nos salários. “Muitas vezes, [o salário que esse trabalhador já recebe] já é um salário quase que ridículo para se sobreviver com os preços como estão hoje”, completou.
Mais assinaturas
A parlamentar do PSOL diz já contar com 220 assinaturas de deputados para protocolar a PEC – eram necessárias 171 para que se pudesse iniciar a caminhada do projeto na Câmara.
“Não é só o campo da esquerda que tem se colocado à disposição de fazer esse debate: nós temos conseguido dialogar com vários líderes partidários para criar um campo robusto, construindo um organismo forte para levar esse debate adiante”, afirmou a deputada.
Fora da Câmara, o próximo passo sobre as discussões pelo fim da escala 6×1, afirmou Erika Hilton, é conversar com a classe empresarial.
“Tive uma conversa com o ministro (Alexandre) Padilha (das Relações Institucionais) essa semana, pedindo um apoio e uma sinalização do governo (federal) até para que a gente consiga organizar isso (discussões) com o setor empresarial”, acrescentou.
Hilton diz que saiu da reunião com Padilha, na quarta-feira (13), com um “sentimento” de que o governo entende que o fim da escala 6×1 é uma “proposta viável” e que vai apoiar a pauta.
“O mais importante para nós é que o governo nos ajude nessa conversa dentro do Congresso Nacional – que já tem sido muito boa -, mas também nos ajude a organizar dentro dos comitês, nas comissões especiais, essa escuta aos setores (econômicos), afirmou.
“Nós queremos e precisamos – mais do que queremos – ouvir os setores para que tragam as suas preocupações e particularidades”, disse, ainda.
Indústria critica proposta
Diversos setores estimam de diversas maneiras os potenciais impactos da PEC que extingue a escala 6×1.
Um dos setores mais críticos à reforma é a indústria. A estimativa de uma das entidades da área, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), aponta que a PEC pode custar R$ 115,9 bilhões ao ano para a indústria nacional.
Já a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) tem uma perspectiva menos pessimista. Dados apresentados pela entidade mostram que a redução da carga horária semanal pode resultar em uma perda de mais de R$ 8 bilhões para as indústrias brasileiras, e de R$ 38 bilhões para os setores produtivos de modo geral.
Em entrevista ao CNN Money, o presidente da Fiemg, Flávio Rascoe, apontou que um dos problemas é fazer essa redução de horas em momento em que há pleno emprego.
Sua avaliação é que não há margem necessária de trabalhadores ociosos para suprir a mão de obra que cobre esse intervalo que será cortado.
“Se você reduzir 30% do número de horas que as pessoas do Brasil inteiro trabalham, produtos e serviços vão faltar. Quem come vai comer menos, e quem consome roupa vai consumir menos roupa. A alternativa é transferir toda a produção para o importado”, argumentou Rascoe.
“E aí, toda a economia perde. Quando transfere do local para o importado, transfere-se recursos para outro lugar, e aí todo mundo empobrece.”
Outro ponto que ele levanta é a perda de espaço para as negociações entre patrões e sindicatos.
“Quando você, de maneira geral, restringe todas as atividades a um teto de carga horária, você está retirando competitividade da economia. E quando você faz isso num cenário de pleno emprego, que é o cenário da economia brasileira, a gente nem sabe o tipo de catástrofe que isso vai gerar”, disse o presidente da Fiemg.