Por Valentina Za
MILÃO (Reuters) – O Banco Central Europeu deveria voltar a adotar uma abordagem mais prospectiva na definição da política monetária e fornecer mais orientações sobre medidas futuras agora que os choques pós-pandemia estão diminuindo e a inflação se normalizando, disse o membro do Conselho do BCE Fabio Panetta.
O presidente do Banco da Itália afirmou ainda nesta terça-feira que a economia da zona do está retornando a um “território conhecido” após os “choques excepcionais de 2022-2023” e que os erros de previsão da inflação estão se normalizando.
O BCE agora precisa “se concentrar na lentidão da economia real” e levar as taxas de juros para “território neutro, ou mesmo expansionista”, disse Panetta no texto de um discurso na Universidade Bocconi de Milão.
“Com a inflação próxima da meta e a demanda interna estagnada, as condições monetárias restritivas não são mais necessárias”, disse ele, acrescentando que a inflação poderia cair bem abaixo da meta na ausência de uma recuperação sustentada.
“Um cenário que seria difícil de ser neutralizado pela política monetária e que, portanto, deve ser evitado”, disse ele.
O BCE cortou as taxas de juros três vezes desde junho, depois de ver a inflação, que havia atingido dois dígitos na esteira da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, cair para sua meta de 2%.
Seu corte mais recente, em outubro, reduziu a taxa paga sobre os depósitos bancários em 0,25 ponto percentual, para 3,25%.
“Provavelmente ainda estamos muito longe da taxa neutra”, disse Panetta.
Economistas definem a taxa neutra como aquela que não restringe nem estimula o crescimento econômico e a consideram entre 2% e 2,5% na zona do euro, embora estimativas cheguem a 3% e a 1,75%.
Os investidores esperam que o banco reduza os custos dos empréstimos em mais 0,25 ponto em sua próxima reunião, em 12 de dezembro, seguido de mais cortes até a primavera.
Isso deixaria a taxa de depósito do BCE em 1,75% a 2,0%.
Tendo conseguido conduzir a economia da zona do euro em águas desconhecidas, o BCE deveria mudar sua abordagem “reunião por reunião” da política monetária, ditada pelas circunstâncias excepcionais dos últimos dois anos, que o forçaram a dar menos peso às previsões, disse Panetta.
“Agora podemos voltar a uma abordagem mais tradicional e genuinamente voltada para o futuro da política monetária, em linha com nossa orientação de médio prazo.”
Panetta também pediu que o BCE “forneça mais orientações sobre a evolução esperada de nossa política do que tem sido o caso no passado recente”.
“Isso ajudará as empresas e as famílias a formarem suas opiniões sobre a trajetória futura das taxas de juros, sustentando assim a demanda e a recuperação da economia real”.