O mercado de exportação de carnes do Brasil não deve ser afetado diretamente caso o Carrefour na França não comercialize carnes oriundas do Mercosul em sua rede na Europa, afirmam especialistas consultados pela CNN.
O CEO do Carrefour na França, na quarta-feira (20), afirmou em publicação no X que a varejista deixaria de disponibilizar a commodity pecuária vinda da região para atender a “consternação e indignação” dos agricultores do país em relação ao tratado.
Para os especialistas, a afirmação reflete uma posição protecionista em ascensão na França devido ao debate do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), além da lei antidesmatamento do bloco.
Felippe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro, afirma que a exportação para a França teria impacto próximo de zero na balança comercial brasileira.
“O mercado de exportação brasileiro está super aquecido no momento, devido a alta demanda mundial de produtos bovinos, suínos e aviários que só nós conseguimos atender”, explica.
Segundo o pesquisador, outros exportadores como Estados Unidos, Austrália e Argentina estão com rebanhos comprometidos, abrindo protagonismo para o Brasil.
No ano passado, passaram pelos portos brasileiros US$ 22 bilhões em carne bovina, suína e de aves, de acordo com Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento. Desse total, só US$ 678 mil, apenas 0,04% do total é exportado para a França.
Serigatti explica que afirmação está mais ligada ao protecionismo crescente na França em relação ao acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul.
“A França é o membro mais protecionista da UE, por ser um dos países mais fortes na agricultura. A pressão interna que acontece atualmente contra o acordo é muito grande. A afirmação do CEO reflete uma sinalização de que, caso seja ratificado, a empresa apoiará os produtores franceses”, explica.
Agricultores franceses protestam desde esta segunda (18) devido ao descontentamento com o acordo e participação da concorrência estrangeira na crise agrícola no início deste ano.
Em sua publicação, Alexandre Bompard ressalta que espera que a declaração possa inspirar outras empresas.
“Esperamos inspirar outros atores do setor agro-alimentar e dar impulso a um movimento de solidariedade mais larga. É através do bloqueio que podemos tranquilizar os criadores franceses de que não haverá evasão possível. No Carrefour, estamos prontos para isso, independentemente dos preços e quantidades de carne que o Mercosul nos proponha”, enfatizou Bompard.
No comunicado, o CEO também afirma que a carne de origem latino-americana coloca o mercado francês em risco de inundação com carne que não atende às suas exigências e normas.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), rechaça a afirmação do presidente, dizendo que a declaração coloca a reputação do Brasil em jogo.
“Essa afirmação é uma falácia. O histórico comercial com a União Europeia prova que as exigências de qualidades do bloco sempre foram atendidas. O que não pode ser ignorado é que um CEO de uma grande empresa realizar essa afirmação sabendo o impacto que pode ter junto a população e outros países sobre a qualidade da carne brasileira”, diz.
Em nota oficial, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) rechaçou a declaração de Bompard, defendendo “a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais”.
“O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, que influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações.”
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*Com informações de Fernando Nakagawa