O contra-ataque brasileiro ao boicote anunciado pelo Carrefour da França às carnes do Mercosul chegou ao setor de aves e suínos. Cooperativas e grandes frigoríficos produtores das proteínas suspenderam o fornecimento de carnes para o Carrefour no Brasil, dando sequência ao boicote iniciado pelas empresas de carne bovina, conforme apurou a reportagem.
O movimento vem em retaliação a declarações do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, dadas na semana passada, quando comunicou a decisão de barrar a compra de carne do Mercosul para unidades da companhia na França. “Não existe um movimento formal, mas várias empresas de frango e suínos estão suspendendo as negociações ao Carrefour do Brasil”, disse uma fonte a par do assunto na condição de anonimato.
Segundo essa fonte, companhias como BRF, Seara, Aurora e cooperativas do Sul do país aderiram ao boicote desde sexta-feira (22/11). Amanhã (26/11) deve ocorrer uma reunião do conselho da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) para discutir o tema. Procuradas pela reportagem, a ABPA e as empresas não comentaram.
Até o momento, a forma de adesão ao movimento tem sido decidida individualmente pelas empresas. Algumas deram sequência a entregas de cargas que já estavam em deslocamento ou contratos já fechados. Novas negociações, no entanto, pararam de ser fechadas.
Ainda de acordo com a fonte, a carne que deixará de ir para as redes de varejo do grupo Carrefour, que inclui as 430 lojas do Atacadão e do Sam’s Club, somadas, serão encaminhadas para outras companhias. “O mercado está equilibrado. Se você não vender para essas empresas, não quer dizer que as pessoas vão deixar de comer a carne”, acrescentou.
A percepção da indústria frigorífica é que a retratação do CEO do Carrefour está demorando muito a acontecer. “Muitas companhias vão diminuir as negociações. No caso da carne de frango, o Atacadão é quem compra mais, mas hoje já deve ter efeitos”, disse um executivo da indústria.
A interrupção não é tão imediata porque as cadeias de produção são diferentes da carne bovina. No caso do frango, por exemplo, as indústrias trabalham com milhares de produtores integrados, que têm entregas programadas e ciclo de produção bem mais curto que o gado bovino.
Um integrante do governo disse que o movimento será forte no Paraná, principal produtor de carne de frango do país, onde se concentram grandes agroindústrias e cooperativas do ramo.
Procurada, a BRF, maior produtora de carne de frango do país, também não se manifestou. Uma fonte da indústria disse que as marcas Seara, da JBS, e Sadia, da BRF, ainda não alteraram a rotina.
Um executivo do setor cooperativista paranaense disse que é preciso “aguardar a evolução dos fatos” e ressaltou que a logística de contratos desse segmento é complexa. Ele ponderou que “há uma indignação generalizada com o anúncio [do Carrefour]”.
Outro representante da indústria de carnes do Paraná afirmou que não há nenhuma ação orquestrada para interromper o fornecimento de carne de aves ao Carrefour neste momento.
Sobre a interrupção de entregas de carne bovina, um executivo explicou que existem cláusulas em todos os contratos que dão a possibilidade de suspender a entrega se houver dano moral ou material injustificado às marcas. “Não se pode causar danos a marcas sob pena de anulação ou suspensão dos contratos”, disse.
Entre lideranças do setor, a aposta é que o movimento de boicote ao Carrefour vai crescer. “Há um movimento de empresas para todos do agro boicotarem Carrefour”, disse uma fonte.
Pesou nessa conta a manifestação do CEO da Tereos, empresa francesa do setor sucroalcooleiro com grande operação no Brasil, contrário ao acordo Mercosul-União Europeia. “Agora virou um símbolo de luta e resistência”, completou a fonte.