A produção de doces artesanais, como a rapadura de cana-de-açúcar e de leite, na família Moraes na chácara Nossa Senhora Aparecida, na comunidade Campo Alegre de Baixo, em Nossa Senhora do Livramento, é uma tradição que atravessa gerações. Hoje, em torno de três mil doces são comercializados por semana. São ao menos 40 opções desde os sabores tradicionais até com coco da Bahia, mamão, cumaru, castanha do Brasil, entre outros.
A produção dos doces na comunidade começou com o tio-avô do produtor Ciro Ernesto de Moraes. A história da produção, inclusive, pode ser conhecida através do Centro de Memória da Rapadura, inaugurado em dezembro de 2021, onde podem ser vistos o primeiro tacho, o pilão, entre outras memórias, e que hoje é um reforço na divulgação dos doces artesanais.
“Através desse museu recebemos muitos turistas. Várias pessoas vêm nos visitar. É uma coisa que ajudou não só a minha família, mas a comunidade, porque ajudou a divulgar o nosso produto, o que fazemos e como fazemos”, frisa Ciro ao programa Senar Transforma desta segunda-feira (25).
Ciro conta que de início, quando seu tio-avô começou a produzir as rapaduras de cana-de-açúcar, elas eram voltadas mais para consumo e preparação de alimentos como canjica, doce de leite, uma vez que na época não se usava açúcar branco.
“O tio do meu pai fazia naquela época. Todas as pessoas que tinham cana levavam para o engenho e ele moía e fazia a rapadura. Naquele tempo era tudo meio a meio. Se dava 100 rapaduras, 50 era para o dono da cana e 50 para o dono do engenho”.
Quando o produtor tinha seus 17 anos, o engenho foi oferecido ao seu pai. Ali começava uma nova história.
“Os clientes começaram a pedir rapadura com mamão e nós fazíamos, com coco babaçu, cana com leite e fomos fazendo cada vez mais. Isso foi gerando uma demanda grande e fomos continuando, pegando gosto das coisas. Hoje trabalhamos não só com rapadura de cana, mas também de derivado e leite”.
Doces que geram renda para a comunidade
Quase 50 anos após a compra do engenho, a família Moraes permanece firme na produção dos doces. É a principal fonte de renda da chácara Nossa Senhora Aparecida, que com o passar do tempo viu a sua sede se transformar em uma agroindústria.
A chácara da família Moraes possui apenas seis hectares, sendo quatro de reserva. Os outros dois hectares estão entre a fábrica e uma pequena produção de cana-de-açúcar.
O empreendimento emprega hoje 10 pessoas e ainda gera oportunidades para outros produtores da região.
“[A fábrica movimenta a economia] de vários produtores. Eu tenho pessoas que entregam cana para mim direto”.
A quantidade de matéria-prima comprada semanalmente revela o sucesso dos doces produzidos pela família. Para atender a demanda aquecida, o trabalho na agroindústria é intenso, conforme Sirlene de Moraes Ramos, filha do senhor Ciro e gerente do empreendimento.
“É o dia inteiro batendo tacho, desinformando de segunda a sexta-feira”, diz ela ao programa do Canal Rural Mato Grosso.
Criatividade de receitas atrai consumidores
As prateleiras de doces e rapaduras prontas para a venda é a prova concreta de todo o trabalho em meio aos tachos. Nelas é possível encontrar uma grande variedade de sabores, mostrando uma outra característica da produção artesanal da família: a criatividade para diversificar receitas.
Ciro conta ao Senar Transforma que são mais de 40 opções idealizadas por ele. Por lá é possível encontrar rapadura com mamão, cana com leite, cana com coco de babaçu, melado de cana, rapadura de leite tradicional, com amendoim, coco da Bahia, cumaru, abacaxi, maracujá e muito mais.
As vendas são realizadas em Cuiabá na feira que ocorre todas às quintas-feiras na Igreja da Boa Morte, além do Ceasa localizado no Distrito Industrial. Segundo Ciro, também são feitas entregas em Várzea Grande, Poconé, Nossa Senhora do Livramento e a cada 15 dias eles participam de uma feira em Cáceres.
Por semana, entre duas mil e três mil peças de doces e rapaduras são comercializadas, além das manteigas também produzidas pela família.
“Eu acho que o que faz a diferença é a gente fazer com amor e carinho. E fazer aquilo que a gente gosta”.
ATeG agroindustrial auxilia na gestão
Assim como é fundamental ter amor pelo que faz, o produtor reconhece a importância de buscar apoio e mais conhecimento para todas as atividades. Há pouco mais de um ano ele passou a ser atendido pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso.
“Nós já nos capacitamos através de vários cursos do Senar, então isso nos ajudou a abrir a mente, a acreditar mais. E depois que começamos à receber a assistência técnica e isso abriu uma mente, porque a gente fazia e vendia, mas não sabia quanto gastou, quanto produziu”, pontua Ciro.
A ATeG possui uma frente específica para auxiliar as agroindústrias. Durante três anos o produtor recebe visitas mensais com até quatro horas de duração em média.
De acordo com a supervisora da ATeG do Senar Mato Grosso, Juliana Aparecida Dias, as orientações vão desde as necessidades de adequações da estrutura física até a gestão do empreendimento.
“A partir do momento em que o produtor começa a gerenciar a sua produção, ele consegue ter lucro suficiente para investir. E ele sabe quanto tempo vai demorar para ter esse retorno”.
Para Ciro, receber as orientações da ATeG representam crescimento, tanto na produção dos doces artesanais quanto na expectativa de produzir mais e ter mais aceitação no mercado.
Sobre o futuro, seu projeto é dar continuidade na produção e que seus filhos e netos sigam os seus passos, assim como ele seguiu os de seu pai.
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