Mensagens de voz do general Mario Fernandes, obtidas pela CNN, mostram que o militar sugeriu que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) atuasse para “segurar” ações da Polícia Federal (PF) que mirassem manifestantes acampados em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília, em 2022.
Os áudios fazem parte da investigação realizada pela PF sobre o plano de suposta tentativa de golpe para evitar a posse do governo eleito.
A mensagem foi enviada em 8 de dezembro de 2022 para o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro.
O general foi preso na semana passada. Ele é um dos 37 indiciados por suspeita de participar de um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Os caras não podem agir. É área militar. Mas já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então, isso seria importante se o presidente pudesse dar um input [orientação] ali para o Ministério da Justiça para segurar a PF ou para a Defesa alertar o CMP [Comando Militar do Planalto], e, p***, não deixa”, disse Mario Fernandes.
Ouça o áudio:
No áudio, o general indica a Cid preocupação com a ação da PF no acampamento montado em frente ao QG. O local serviu como ponto de mobilização e concentração de manifestantes contrários ao resultado das eleições.
“Cid, o segundo ponto é o seguinte: eu estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas, pô, se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar”, disse o militar na mensagem de voz.
Em outra mensagem, o general sinaliza ter conversado pessoalmente com Bolsonaro.
De acordo com o relatório da PF, os dados do controle de acesso encaminhados à corporação confirmam que Mario Fernandes esteve no Palácio da Alvorada no dia 8 de dezembro pela tarde.
No mesmo dia à noite, ele enviou mensagens a Cid pedindo para que o ajudante de ordens conversasse com Bolsonaro sobre “segurar” a atuação da PF.
A CNN tenta contato com a defesa de Fernandes a respeito dos áudios.
Próximos passos
O relatório da PF com o detalhamento das trocas de mensagens — e os indiciamentos — ainda deve ser enviado por Moraes para a Procuradoria-Geral da República (PGR).
A PF concluiu, na quinta-feira (21), a investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A partir do encaminhamento do relatório, o Supremo passa a aguardar a análise e a decisão do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre denunciar ou não Bolsonaro e os demais indiciados.
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