“Qualquer ação“ poderia acontecer até 31/12, relata general sobre conversa com Bolsonaro; ouça

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Em áudio obtido pela investigação da Polícia Federal (PF) sobre uma suposta tentativa de golpe, o general da reserva Mário Fernandes disse ao tenente-coronel Mauro Cid que conversou com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o prazo para colocar em prática uma “ação”.

Segundo a troca de mensagens entre Fernandes e Cid, a data da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 12 de dezembro, “não seria uma restrição” e que a ação poderia acontecer até 31 de dezembro.

A CNN conseguiu acesso aos áudios dessas mensagens.

“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do v***, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”, disse Fernandes a Cid, que na época era ajudante de ordens de Bolsonaro.

“Mas, p***, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”, disse o general, na mensagem.

Ouça: 

De acordo com os investigadores, as mensagens tratam de “intenções antidemocráticas” vocalizadas por Fernandes.

A PF também concluiu que o general mostrou “grande preocupação” com os “movimentos antidemocráticos que estavam nas ruas”, principalmente com “a possiblidade de perder o controle sobre a massa de pessoas envolvidas nas manifestações”.

No áudio, Fernandes narrou a Cid dois cenários caso a “ação” levasse mais tempo para ser colocada em prática: ou as manifestações iriam “esmaecer” ou iriam “recrudescer”. Segundo Fernandes, a segunda possibilidade traria o risco de eles perderem o controle a partir do surgimento de “radicalismos”.

“A partir da semana que vem, eu cheguei a citar isso pra ele, das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismos e a gente perde o controle, né? Pode acontecer de tudo. Mas podem esmaecer também”, afirmou o militar.

Conforme a PF, Fernandes indicou que o golpe poderia ser frustrado caso se passasse muito tempo. “A partir do dia 20 de dezembro, o Comando Militar seria ‘passado’ para militares indicados pelo governo eleito, citado na mensagem como ‘eventual governo do presidiário’”, diz o relatório da investigação.

Indiciamento

A investigação sobre a suposta tentativa de golpe foi concluída na quinta-feira (21). O inquérito foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator da apuração no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mario Fernandes foi preso e indiciado por tentativa de golpe de Estado.

O magistrado deve encaminhar o material ainda nesta semana para avaliação da Procuradoria-Geral da República (PGR).

A PF indiciou no caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

Segundo a investigação, Bolsonaro, integrantes do seu governo, auxiliares e militares planejaram um golpe para manter o ex-presidente no poder.

O suposto golpe passaria, inclusive, pelos assassinatos de Lula, do seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, em dezembro de 2022.

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