Apesar das tensões entre produtores rurais do Mercosul e varejistas franceses nos últimos dias, o governo brasileiro segue confiando que Mercosul e União Europeia (UE) anunciarão na semana que vem, durante a reunião de cúpula do bloco sul-americano, o acordo de livre comércio entre ambas as partes.
Hoje (26), começa em Brasília aquela que poderá ser a última rodada de reuniões entre os dois lados para tratar do tema. A tendência é que as reuniões durem até sexta-feira (29) e envolvam, do lado brasileiro, secretários de pelo menos seis ministérios: Relações Exteriores; Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Meio Ambiente e Mudança do Clima; Ciência, Tecnologia e Inovação; Gestão e Inovação em Serviços Públicos; Agricultura e Pecuária.
Do lado europeu, deverão participar o negociador-chefe da UE, Rupert Schlegelmilch, e outros integrantes. Também estarão presentes representantes dos demais países do Mercosul. “Estamos otimistas, mas são negociações que se desenvolvem há mais de 20 anos, então cautela não é demais”, diz uma fonte do governo brasileiro que participa dos debates.
Segundo essa fonte, as discussões vêm girando em torno das “mesmas questões de uma semana atrás”, durante as reuniões do G20. Entre elas, estão desmatamento e política industrial. No primeiro caso, o governo brasileiro considera que o país “não tem dificuldades de assumir compromissos de desenvolvimento sustentável, mas quer um texto mais equilibrado”. No segundo caso, um dos pontos que vêm sendo defendidos pelo governo brasileiro é a ampliação do uso de compras públicas como estratégia de fortalecimento da indústria nacional.
“Este é um governo que valoriza a política industrial”, diz. Segundo a fonte, a tendência é que a resistência francesa ao acordo, simbolizada nos últimos dias por grandes empresas de varejo, sejam debatidas de maneira “interna” pela França no ano que vem, após o anúncio oficial.
Caso as negociações sejam concluídas na semana que vem, o acordo ainda precisará passar por outras etapas, como a análise das novas regras pelo Conselho Europeu — as negociações tiveram início em 1999. “Essa internalização do debate se dará em outro momento”, afirma.
Na semana passada, o Carrefour anunciou a suspensão das compras, pelas suas unidades na França, da carne do Mercosul. O anúncio foi feito depois de novos protestos contra o acordo realizados por agricultores do país. Em carta pública, o presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmava que a companhia ouvia “o desespero e a raiva dos agricultores” franceses e dizia que existe o “risco de inundação no mercado francês de uma produção de carne que não respeita suas exigências e normas”.
As reuniões de cúpula do Mercosul serão realizadas em Montevidéu, no Uruguai, nos dias 5 e 6 de dezembro. Na semana passada, durante as reuniões do G20, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, já tinha afirmado ao Valor que a expectativa era que o acordo fosse anunciado durante a cúpula do Mercosul. Também no G20, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, defendeu que ambas as partes cheguem a um acerto em breve.