O ex-diretor do Banco Central (BC) e colunista do CNN Money, Tony Volpon, disse que a inflação deve ficar próxima da meta de 3% apenas em 2026.
Em entrevista nesta terça-feira (26), ele destacou que o IPCA-15 divulgado nesta terça superou 4,5% em 12 meses, um patamar não visto desde dezembro do ano passado.
“É um quadro muito ruim. Estruturalmente, quando a gente olha para os núcleos, por exemplo, várias medidas de núcleo também estão rodando acima da meta”, afirmou ao CNN Money.
Volpon também abordou temas como o plano de corte de gastos do governo e as implicações das políticas de Donald Trump para os mercados emergentes.
Desafios na política monetária e fiscal
O economista ressaltou que a taxa de juros praticada pelo Banco Central não está sendo suficiente para conter a inflação, dada a combinação de uma economia em crescimento, mercado de trabalho apertado e forte impulso fiscal.
Volpon prevê que o Banco Central precisará manter os juros acima de 14% para efetivamente controlar a inflação, alertando para os desafios que a nova diretoria do BC enfrentará após a saída de Roberto Campos Neto.
Quanto ao plano de corte de gastos do governo, Volpon criticou a demora na divulgação e a falta de clareza nas comunicações. Ele enfatizou a importância de resolver o problema da indexação do Orçamento, que atualmente cresce acima do teto estabelecido pelo arcabouço fiscal.
“O que o mercado vai ter que ver no anúncio das medidas é quanto eles vão caminhar na questão de resolver esse problema de indexação do orçamento”, explicou.
Impacto das políticas de Trump
O ex-BC também comentou sobre as recentes declarações do presidente eleito Donald Trump a respeito de tarifas comerciais. Ele alertou para o risco de uma guerra comercial global, caso países como México e Canadá retaliem as medidas anunciadas pelo republicano.
“Na verdade, isso funciona como um choque de oferta negativo”, disse Volpon, explicando que tal cenário poderia desarticular as redes de suprimento globais, impactando negativamente tanto a atividade econômica quanto a inflação.
O economista concluiu ressaltando que o cenário externo está se tornando mais adverso para mercados emergentes como o Brasil, especialmente considerando a percepção de falta de compromisso com a estabilização fiscal.
Esse contexto global desafiador adiciona mais uma camada de complexidade aos esforços do Brasil para controlar a inflação e promover o crescimento econômico sustentável nos próximos anos.