Carrefour ‘lamenta’, mas o dano está feito

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retratação do Carrefour envolvendo declarações polêmicas de seu CEO, Alexandre Bompard, a respeito dos requisitos e padrões de carne oriunda do Mercosul, foi anunciada hoje, mas o dano está feito – para a carne do bloco do cone sul e para a rede de supermercados.

Em comunicado divulgado hoje cedo em Paris, o serviço de imprensa do Carrefour não menciona o nome do CEO que arranjou a confusão – e o grupo na França continuará sem comprar carne brasileira. Diz que na França vai comprar quase exclusivamente o produto local, e no Brasil a carne local.

‘Lamentamos que nossa comunicação tenha sido percebida como um questionamento e uma crítica à nossa parceria com a agricultura brasileira, da qual nos orgulhamos de ser o principal parceiro e promotor histórico. Melhor do que ninguém, entendemos os padrões seguidos pela carne brasileira, sua alta qualidade e seu sabor’.

O CEO, Alexandre Bompard, estava sob enorme pressão para se retratar de sua carta ao presidente da Federação de Agricultores franceses na qual dizia que entendia ‘o desânimo e a raiva dos produtores (franceses) diante da proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de a produção de carne que não atende aos seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”.

Bompard quis fazer demagogia com os agricultores franceses, esqueceu que no Brasil obtém 23% de seu faturamento total, armou a confusão e deu um tiro no pé.

Era hora de recuar. Ainda assim, o dano está feito na imagem da carne do Mercosul, e leva tempo para se recuperar. E não está claro se os atores franceses, desde alguns executivos a políticos de todos os lados, entendem que suas declarações e ações tem consequências na vida real.

O dano também afeta o Carrefour, com a ameaça de boicote no Brasil que no mínimo desperta atenção sobre práticas do grupo no país. O próprio fato de considerar que a carne brasileira não tem os mesmos padrões para a Europa, mas a vende para o consumidor brasileiro, não passou despercebido e reflete arrogância.

De imediato, está dada a lição que ‘se lacrar, não lucra’. Em algum momento, a conta desse tipo de posicionamento aparece. Ao perceber que poderia ter prejuízos significativos no Mercosul, Carrefour não demorou muito para recuar.

A propagação de desinformações sobre a carne brasileira e do resto do Mundo aumentou recentemente, no meio da mobilização contra o acordo na medida em que se aproxima o anúncio da conclusão das negociações do acordo UE-Mercosul.

Somente neste mês de novembro, a Missão do Brasil junto à UE, em Bruxelas, divulgou duas notas para reagir a postagens e publicações de políticos envolvendo as carnes brasileiras.

O eurodeputado centrista francês Pascal Canfin, ex-presidente da Comissão de Meio-Ambiente, Segurança Alimentar e Saúde Pública do Parlamento Europeu, mostra-se particularmente ativo. Ele retomou um recente relatório de auditoria europeu sobre a vigilância no Brasil da gripe aviária, para reclamar que o documento ‘ilustra que o sistema de controle da gripe aviária no Brasil é totalmente falho’. E acha que isso seria ‘uma razão a mais para se opor ao Mercosul’.

Em reação, a Missão do Brasil na União Europeia divulgou nota lamentando ‘ a campanha de desinformação espalhada pelo Sr. Pascal Canfin e Le Parisien (jornal de Paris)’. Considerou essas postagens como ‘claramente uma tentativa infundada de levantar dúvidas sobre os controles de segurança alimentar do Brasil’.

O artigo no Le Parisien, reproduzido por. Canfin, cita ‘parcial e incorretamente ‘um trecho do relatório da auditoria. ‘Ele deturpa as conclusões gerais da auditoria da Didreção Geral de Saúde, que diz que “o sistema [brasileiro] fornece garantias suficientes de que as commodities que podem ser exportadas para a UE cumprem com a maioria dos requisitos de importação relevantes”, reagiu a Missão brasileira em Bruxelas.

A auditoria de fato identificou que há espaço para melhorias no sistema de detecção precoce do Brasil (também chamado de ‘vigilância passiva’) e no monitoramento de estabelecimentos não comerciais. Em relação à vigilância ativa e aos controles em estabelecimentos comerciais, o relatório da auditoria diz que ‘os serviços veterinários podem fornecer controles de saúde animal apropriados em áreas relevantes, como o registro de estabelecimentos comerciais de aves, movimentação de aves, rastreabilidade e controles de importação’.

A Missão Brasileira lembrou que no momento, é a UE, não o Brasil, que enfrenta uma epidemia de gripe aviária. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos informa que, desde o início do ano epidemiológico de 2023–2024, o número de surtos dessa doença relatados na Europa foi de 1.085, dos quais 960 em aves.

‘Apesar disso, o Brasil nunca questionou a vigilância da UE sistema e controles, porque o Brasil sabe que a gripe aviária é uma ameaça global que pode afetar a todos nós em algum momento’, acrescentou a Missão do Brasil. ‘A oposição ao Acordo Mercosul-UE não justifica a disseminação de fatos imprecisos sobre o Brasil, um parceiro comercial tradicional da UE e da França.

Em Bruxelas, a diplomacia brasileira contestou também artigos publicados por Agrafacts, FoodWatch e outros jornais, sobre outra auditoria recente da UE que, segundo eles, teria revelado falhas nos controles da carne bovina no Brasil, ‘incapazes de garantir a ausência do hormônio Estradiol’, que é interditado na Europa.

Em nota, a Missão do Brasil retrucou que o Estradiol não é usado para promoção de crescimento no Brasil. E que ‘as exportações brasileiras de carne bovina para a UE não expuseram os consumidores da UE a nenhum risco à saúde’.

Explicou que, desde 2011, nenhuma substância com atividades anabólicas hormonais destinadas a estimular o crescimento e o ganho de peso em bovinos para abate é permitida no Brasil. Insistiu que o Estradiol é autorizado no Brasil apenas para tratamento reprodutivo de bovinos fêmeas. Isso significa que somente uma dose e muito pequena (chamada de “fisiológica” pelos veterinários) é administrada, respeitando os períodos de carência necessários antes do abate e, portanto, não deixando resíduos na carne bovina.

Acrescentou que, para garantir a conformidade com os padrões da UE sobre Estradiol, o Brasil tem um sistema segregado em vigor desde 2018. E que, em resposta à auditoria mais recente (maio-junho de 2024), o Brasil se comprometeu a implementar um protocolo privado, com certificação de terceiros, que será uma garantia adicional da confiabilidade de seu sistema segregado.

Enquanto o protocolo estiver em desenvolvimento (em 12 meses), apenas carne de bovinos machos será enviada para a UE. ‘Não há risco para os consumidores europeus’, reiterou. E lembrou que o Brasil exporta carnes para mais de 150 países.

AF News

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