A Polícia Civil investiga um caso de agressão e injúria racial registrado na Escola Municipal Rural Boa União, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. A vítima, a professora Sueli Santana, de 51 anos, denunciou ter sido alvo de ataques verbais discriminatórios em razão de sua religião de matriz africana e relatou que foi apedrejada dentro da unidade escolar onde leciona.
O caso ganhou repercussão após o relato da educadora ser amplamente compartilhado nas redes sociais nesta terça-feira (26).
A professora, que é candomblecista, relatou em vídeo que os ataques verbais começaram no início do ano letivo, após ministrar aulas sobre cultura afro-brasileira. Segundo ela, alunos com idades entre 10 e 12 anos, todos da mesma família, se recusaram a participar das aulas previstas pela Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.
As hostilidades aumentaram com ataques verbais, nos quais a professora foi chamada de “bruxa”, “macumbeira”, “feiticeira” e “diabólica”.
Em um episódio mais grave, no dia 29 de outubro, Sueli denuncia ter sido apedrejada por alunos enquanto corrigia atividades em sala de aula. Uma das pedras a atingiu no pescoço e, após o incidente, ela ficou afastada do trabalho por três dias.
Em sua denúncia, a professora afirmou que a direção da escola orientou, por determinação da Secretaria Municipal de Camaçari, a não utilização do livro ABC dos Povos Afro-brasileiros, material didático previsto para as aulas de história e cultura afro-brasileira, após queixas de pais de alunos.
O caso gerou indignação e foi amplamente repudiado por entidades e autoridades. A Central Única dos Trabalhadores da Bahia (CUT-BA) classificou a agressão como “bárbara” e cobrou a responsabilização dos envolvidos. “A Central Única dos Trabalhadores da Bahia (CUT-BA) vem, por meio desta nota, expressar seu mais profundo repúdio ao ato de violência racista e intolerância religiosa sofrido pela professora Sueli Santana em seu local de trabalho, na Escola Rural Boa União, em Abrantes, Camaçari.
No exercício de sua profissão, a professora foi vítima de racismo religioso, culminando em uma agressão física inadmissível: foi apedrejada por duas alunas, em um episódio que representa não apenas um ataque à sua integridade física, mas também um atentado contra a dignidade, a liberdade de crença e os direitos humanos”, comunicou a nota.
A Secretaria de Educação de Camaçari informou que recebeu a denúncia no dia 21 de novembro e está apurando o caso. Em nota, a pasta reiterou seu repúdio a qualquer forma de discriminação, seja de gênero, crença ou cor. A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Camaçari segue com as investigações, apurando as denúncias de lesão corporal e injúria contra a professora.