Com sonho de ingressar na faculdade, casal conclui ensino médio após mais de 40 anos longe da escola

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Os 51 anos que Ademir Orlandi passou longe da escola não foram capazes de enterrar o sonho do aposentado de concluir os estudos. Hoje, com 74 anos, ele conseguiu o tão desejado diploma do ensino médio e planeja ingressar na faculdade de Agronomia ou Administração no próximo ano.

Nascido e criado em Sarandi, no Rio Grande do Sul, Ademir sempre trabalhou em madeireiras, na pecuária e na agricultura. Em busca de novas oportunidades, mudou-se para Rondonópolis, em Mato Grosso, em 1973. No entanto, teve que interromper os estudos para se dedicar ao trabalho.

“Foi difícil conciliar os estudos e o trabalho, então parei de ir à escola quando estava no 6º ano do ensino fundamental”, lembra o aposentado, que recebeu, nesta semana, a certificação de conclusão do ensino regular. Ele finalizou os estudos pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Serviço Social da Indústria (Sesi-MT) de Rondonópolis.

“Estou muito feliz com essa conquista. Pretendo fazer faculdade, mas ainda não decidi se vou cursar Administração ou Agronomia. Independentemente do curso, meu sonho é fazer uma graduação. Não pude quando era jovem, porém, hoje, com a idade já avançada, planejo ingressar no ensino superior. Quero viver até os 95 anos, então ainda tenho uns 21 anos para desfrutar da possível nova carreira”, calcula o aluno.

Ademir não esteve sozinho nessa trajetória de estudos. Ele contou com a presença da esposa, Darzira Orlandi, 66 anos, que também concluiu o ensino regular pela EJA. Ela ficou 45 anos longe da sala de aula e, com o incentivo do marido, decidiu retornar.

“Não foi fácil porque o ensino mudou, mas, com a dedicação dos professores e a paciência deles com a gente, a aprendizagem foi mais leve. Eles ouviam nossas dificuldades e ensinavam. Isso foi fundamental”, conta. Assim como Ademir, Darzira também planeja se matricular na faculdade. Ela está em dúvida entre Pedagogia e Enfermagem.

No degrau do sucesso

Ao lado do casal Orlandi, outros 58 alunos da EJA do Sesi em Rondonópolis foram certificados na cidade. Entre eles está Cleber Biasotto, de 47 anos. Empresário de prestígio no município entre 2009 e 2020, quando atuava com a venda de acessórios para caminhões, Cleber foi obrigado a fechar as portas de suas três empresas após ser acometido pela Covid-19.

“Quase morri. Fiquei 33 dias internado. Depois da alta médica, desenvolvi um problema no rim e precisei ficar mais 15 dias hospitalizado. Achei que não iria sobreviver, então vendi minhas lojas. Passaram-se seis meses, eu não morri e me vi em busca de emprego, quando surgiu uma vaga na Scania como vendedor de caminhões.”

Em três anos como vendedor na Scania, Cleber trilhava o degrau do sucesso. Conquistou todas as premiações estaduais de vendas. Em nível nacional, ficou em 3º lugar e foi premiado com uma viagem à Europa. “O presidente do grupo me parabenizou e perguntou se eu tinha estudos. Respondi que não havia finalizado o ensino médio”, lembra Cleber, que, ao dar a resposta, recebeu o seguinte questionamento: “Você almeja crescer na Scania? Para isso, é bom você estudar.” A pergunta atravessou sua alma e o fez retornar à escola.

“Eu não tinha o segundo grau, entretanto dispunha de muito conhecimento, que, sem o diploma, não me levaria a outros patamares”, diz. Disposto a mudar essa realidade, Cleber se matriculou na EJA e já se inscreveu no curso de Administração. “Vou me graduar não só pelo serviço, mas porque é um avanço que devo para mim, considerando toda a minha história. Devo isso às minhas duas filhas, que são engenheira e contadora. Quero criar novas oportunidades e, com a EJA, isso será possível. Minha experiência aqui foi fantástica. O Sesi tem um método excelente, que me ajudou também a refletir sobre diversas questões, como ambiental e social.”

Aulas flexíveis

Somente neste ano, aproximadamente 290 pessoas concluíram o ensino médio na EJA do Sesi em Rondonópolis. Em todo o estado, o Sesi matriculou 1.703 alunos, que estudaram nas unidades de Cáceres, Sinop, Rondonópolis e Várzea Grande, somando cerca de 5 mil jovens e adultos em sala de aula.

As aulas do Sesi são gratuitas e têm uma abordagem moderna e flexível, possibilitando a conclusão dos estudos entre três meses e um ano, a depender da dedicação do aluno. Essa rapidez ocorre porque a instituição utiliza o método de reconhecimento de saberes, mecanismo reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação, que avalia as experiências dos alunos a partir de suas vivências. Assim, elimina-se a necessidade de cursar algumas matérias, tornando o curso mais ágil.

“A metodologia oportuniza um futuro de realizações para as pessoas que vislumbram melhores colocações no mercado. A educação é transformadora; ela é a ponte entre uma pessoa e o emprego que deseja. Entendemos essa necessidade e desenvolvemos uma EJA de qualidade e flexível”, aponta o gerente de Educação do Sesi-MT, Fernando Pereira.

As aulas são híbridas, com 80% da carga horária online e 20% presencial. Os encontros presenciais são realizados uma vez por semana (conforme o calendário do curso). Nos demais dias, o aluno pode acessar a plataforma de estudos de onde quiser e no melhor horário.

MATO GROSSO – CenárioMT

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