O pacote fiscal apresentado pelo governo não deve ser suficiente para conter a inflação e as expectativas desancoradas, consequentemente não suavizando o trabalho da política monetária do Banco Central (BC), de acordo com análise do UBS BB.
Desse modo, os analistas do banco de investimento apontam que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode colocar o pé no acelerador já em sua próxima reunião, subindo a Selic – a taxa de juros básica do país – em 0,75 ponto percentual, a 12% ao ano.
O ritmo deve ser mantido nos dois primeiros encontros de 2025 do colegiado – em janeiro e março -, levando a Selic a 13,5% no final do 1º trimestre do ano. Este seria o maior patamar atingido pelos juros desde agosto de 2023, quando o BC reduziu sua taxa de 13,75% a 13,25%.
A avaliação dos economistas do UBS BB é de que o anúncio, que deveria ser um “tiro contra as expectativas negativas”, acabou saindo pela culatra.
Isso porque além de o pacote de R$ 70 bilhões ter sido avaliado como insuficiente para se atingir a sustentabilidade da dívida pública, as medidas de contenção fiscal foram anunciadas em paralelo com a isenção de Imposto de Renda (IR) para os contribuintes que recebem até R$ 5 mil mensais.
Com as incertezas postas, o UBS BB vê o câmbio e a inflação mais acelerados no próximo ano. A expectativa dos economistas é por um dólar cotado em R$ 6 no final de 2024 e de 2025, enquanto a projeção de inflação ao final do ano que vem foi elevada de 3,5% a 4%. Sendo assim, o UBS BB acredita que não será mais plausível reduzir os juros até o começo de 2026.
“Tínhamos cortes [de juros] em nossa projeção devido às nossas expectativas de inflação mais baixas para o próximo ano. Agora, o câmbio impulsionou ainda mais o ajustamento dos preços relativos, empurrando a nossa expectativa do primeiro corte para o início de 2026. A nossa nova previsão de inflação é demasiado elevada para que possamos prever cortes nas taxas no próximo ano”, pontuam os economistas em relatório.
“Este ajustamento relativo dos preços ainda é válido, mas compensado por outros fatores. O BC pode ter condições para cortes nas taxas se o cenário fiscal não se deteriorar ainda mais em 2025. [Mas,] a política monetária está sobrecarregada. Na nossa opinião, a política monetária está suportando o fardo de uma política fiscal frouxa, que está sendo menos ajustada do que deveria. Estamos nos aproximando da dominância fiscal.”