Um banco vermelho gigante foi instalado na frente do Fórum da Comarca de Cuiabá como parte da campanha Feminicídio Zero. A peça foi lançada na tarde dessa segunda-feira (16 de dezembro), com a presença de magistrados do Poder Judiciário de Mato Grosso, da secretária adjunta da Secretaria Municipal da Mulher de Cuiabá, Elis Regina Prates, servidores (as) e pessoas que estavam no Fórum no momento. A ação é uma parceria com o Instituto Banco Vermelho.
Os números de violência contra mulheres e meninas em Mato Grosso são alarmantes. Somente no primeiro semestre deste ano, 20 mulheres haviam sido vítimas de feminicídio, na capital do estado. Para a juíza titular da 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, da Comarca de Cuiabá, Hanae Yamamura de Oliveira, as campanhas são necessárias e precisam ser sempre “reavivadas”.
“Precisamos falar reiteradamente porque é uma questão cultural, uma questão de educação da sociedade e da população de entender que essa violência contra a mulher é uma violência contra todos, inclusive contra os homens. (…) Então este banco estar na frente do fórum, que tem um fluxo de mais de 1.800 pessoas por mês, é algo significativo. É uma ação afirmativa para mostrar que nós, do Poder Judiciário, estamos combatendo e enfrentando a violência doméstica ao realizar a justiça, que é nosso papel institucional, mas também por meio de campanhas em prol da sociedade civil como um todo, porque entendemos que nós fazemos parte dessa sociedade democrática, mas também igualitária”, afirmou a magistrada.
O juiz da 2ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá, Marcos Terêncio de Agostinho Pires, disse que a instalação da peça é mais uma oportunidade para reflexão sobre a violência doméstica, o que ajuda a diminuir a violência doméstica.
“A violência doméstica não tem um perfil de criminoso. Ela está arraigada na sociedade e a única forma de tirar isso é por meio da reflexão, e o banco vermelho é uma oportunidade. Vivenciamos isso nos grupos reflexivos para homens, com taxas de reincidência mínimas, sem feminicídios. Quer dizer que um homem que refletiu sobre violência doméstica é muito menos propenso a praticar violência e muito menos a praticar um crime tão grave quanto o feminicídio. O Poder Judiciário está correto em dar apoio ao Instituto e a prefeitura está correta em ter espalhado os bancos pela cidade”, afirmou o juiz.
A secretária adjunta municipal da Secretaria da Mulher, Elis Regina Prates, agradeceu à juíza Hanae Yamamura a disponibilidade do espaço no Fórum e todas as ações realizadas pelo Judiciário para enfrentar a violência doméstica e não deixar os casos de feminicídio e violência doméstica impunes. Ela explicou sobre a parceria com a campanha.
“A Secretaria Municipal da Mulher entrou em contato com o Instituto Banco Vermelho, de Recife (PE) e criamos a parceria. Cuiabá é a cidade onde há mais bancos vermelhos, com dez. Entendemos que, por ser a capital de Mato Grosso, que tem um índice de violência tão alto, era importante que trouxéssemos mais bancos para que mais pessoas pudessem acessar as informações pelo QR code, refletir sobre o assunto e mudar a perspectiva que têm em relação às políticas públicas para as mulheres”, afirmou a secretária.
“O banco é gigante porque nossa luta também é.” – A ação é promovida pelo Instituto Banco Vermelho, uma organização sem fins lucrativos e suprapartidária, que já instalou bancos similares em 12 estados, tanto em vias públicas quanto em espaços institucionais.
O banco, confeccionado em madeira reforçada e com mais de quatro metros de comprimento, é pintado na cor vermelha e traz frases de impacto contra a violência de gênero. Além disso, possui um QR code que dá acesso a informações sobre o Instituto, e como a pessoa pode participar.
Em Cuiabá, os bancos também estão instalados em locais como a rodoviária de Cuiabá, Shopping Pantanal, Parque das Águas, Praça Alencastro, Orla do Porto 2, Parque da Nascente, Praça 8 de Abril (Choppão) e Shopping Estação.
Grupos Reflexivos
O Poder Judiciário de Mato Grosso promove “Grupos de Reflexivos de Gênero” como forma de conscientizar e responsabilizar homens autores de violência doméstica e familiar. Os encontros são estruturados e seguem uma sequência onde inicialmente os participantes são acolhidos e recebem informações sobre o funcionamento da Lei Maria da Penha (nº 11.340), sobre questões de família, a importância do diálogo no convívio familiar, comportamento machista e as várias formas de violência doméstica e familiar.
Feminicídio e violência doméstica em Mato Grosso – Nos últimos cinco anos e meio, entre janeiro de 2019 e junho de 2024, as estatísticas somaram 257 mato-grossenses vitimadas por feminicídios. Essas mortes ocorreram em 82 dos 142 municípios, segundo dados do Observatório da Segurança Pública de Mato Grosso (SESP-MT).
Cuiabá ocupa o primeiro lugar, com 20 feminicídios. O segundo lugar é ocupado por Rondonópolis, com 16 registros. Sinop e Sorriso, cada uma com 15 feminicídios, aparecem na terceira posição. Dados do Observatório da Segurança Pública, da Secretaria de Segurança Pública, também apontam que, entre janeiro e dezembro de 2023, 10.090 mulheres, 28 a cada 24 horas, foram vítimas de lesão corporal dolosa (espancadas) e 18.958 (52 a cada 24 horas) denunciaram que sofreram ameaças de morte.
De janeiro a junho de 2024, já haviam sido registrados 4.442 (124 ao mês) de atendimentos de mulheres vítimas de lesão corporal.
O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio e violência doméstica e 90% dos assassinos de mulheres e meninas são homens. A cada seis horas, uma mulher é morta no Brasil. A cada seis minutos, uma mulher ou menina é vítima de estupro.