O documentário “Portão do Inferno: patrimônio em risco”, lançado nesta quarta-feira (18), joga luz sobre as controvérsias e os impactos da obra de retaludamento na MT-251, em Chapada dos Guimarães, Mato Grosso.
A produção dá voz a moradores, comerciantes, arqueólogos e pesquisadores que questionam a viabilidade da intervenção comandada pelo governo estadual, apontando para prejuízos socioambientais e econômicos.
A obra, orçada em R$ 30 milhões e com prazo inicial de 120 dias (já ultrapassado), tem sido alvo de críticas devido a uma série de irregularidades. A jornalista Andreia Fanzeres destaca a ausência de um termo de referência adequado no licenciamento ambiental, o que dificulta a avaliação da suficiência dos estudos apresentados. Além disso, a contratação da empresa Lotufo Engenharia e Construções, ligada ao senador e ex-chefe da Casa Civil Mauro Carvalho Júnior, ocorreu sem licitação e antes da expedição da licença ambiental, levantando questionamentos sobre a transparência do processo. A empresa também não atendeu às 21 condicionantes ambientais exigidas pelo Ibama e o ICMBio.
Impactos na população e no turismo no Portão do Inferno
Enquanto alguns lucram com a obra, a população local enfrenta dificuldades. Demissões, redução no número de turistas e até mesmo o fechamento de estabelecimentos comerciais são alguns dos impactos já sentidos. A empresária Flávia Cintra lamenta a redução do quadro de funcionários e o impacto negativo no setor turístico, especialmente no final do ano.
Alerta de especialistas e ação do Ministério Público
Desde o anúncio da obra, o Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad) e o Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT) alertaram para os riscos da intervenção, lançando uma campanha e um abaixo-assinado, que já ultrapassou 17,3 mil assinaturas. Em setembro, uma Ação Civil Pública foi ajuizada pela sociedade civil organizada, solicitando a suspensão das licenças e obras até a realização de uma perícia e a indicação de alternativas menos impactantes. Em outubro, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado (MP-MT) pediram a suspensão imediata das obras devido às irregularidades, mas até o momento o governo estadual não se manifestou e os trabalhos continuam.
O documentário “Portão do Inferno: patrimônio em risco”
O documentário, dirigido por Laércio Miranda e Dafne Spolti, realizado pelo Formad e pelo Movimento de Moradores de Chapada dos Guimarães, com apoio do Observa-MT, busca dar visibilidade a essa problemática. Com entrevistas da empresária Flávia Cintra, da jornalista Andreia Fanzeres, da arqueóloga Suzana Hirooka, do geólogo Prudêncio Castro Júnior e da guia de turismo Marcia Bortoluzzi, além de imagens do fotógrafo Mario Friedlander, o filme expõe os questionamentos e as preocupações em torno da obra. O documentário está disponível no canal do Formad no Youtube.