O Brasil está em negociações finais com autoridades da Turquia para efetivar a abertura daquele mercado à carnebovina brasileira. Em um primeiro momento, Brasília deve aceitar o estabelecimento de uma cota reduzida, entre 4 mil e 5 mil toneladas, com tarifa zero e a exigência de apresentação de testes sanitários nas cargas, segundo fontes a par do assunto.
A estratégia é abrir as portas para depois ampliar a inserção em território turco, onde os preços do produto dispararam. O preço da carnebovina na Turquia subiu 200% em 2023 e levou o consumidor local a diminuir em 30% a compra do produto, migrando para o frango.
Nas negociações mais recentes, foram acertados os termos técnicos e sanitários para viabilizar a exportação. A exigência é que a carne resfriada ou congelada passe por testagem de BSE, a “doença da vaca louca”, apesar de o Brasil ser considerado um país com “risco insignificante” para a doença pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
As autoridades brasileiras resolveram aceitar o pedido como estratégia para concretizar a abertura de mercado e, posteriormente, buscar a expansão. O primeiro pedido havia sido por cota de 10 mil toneladas, que acabou reduzida pela metade.
O setor privado brasileiro estima potencial de embarque de até 300 mil toneladas anuais à Turquia num mercado consolidado. Se concretizado, o país se tornaria o segundo principal destino da carne brasileira, atrás da China, que importa mais de 1 milhão de toneladas por ano.
A Turquia é um dos poucos mercados importantes ainda fechados ao produto brasileiro, ao lado de Japão, Vietnã e Coreia do Sul. O cenário de inflação tem elevado a expectativa de abertura do mercado à carne do Brasil. Historicamente, os turcos importam volumes pequenos do produto.
“O primeiro passo é entrar no mercado, o segundo é tirar a exigência do teste, porque eles vão ter comprovado que é um produto seguro. E temos que aumentar a cota e negociar a tarifa”, disse uma fonte ao Valor.
Uma das preocupações é a taxação do produto na entrada da Turquia. Hoje, o país impõe uma tarifa de 225% à carne importada, taxa considerada impeditiva para as exportações brasileiras. A cota inicial deve ser isenta, mas uma eventual ampliação deve exigir a aplicação de alguma alíquota.
Fontes do setor exportador dizem que uma taxa de até 20% seria aceitável para as negociações. A análise é que, com o atual preço da carne no mercado turco, essa alíquota ainda deixaria o produto brasileiro competitivo nas gôndolas do país. Há negociações para a taxa ficar em torno de 12%.
O governo brasileiro espera conquistar na Turquia o mesmo sucesso que teve no Marrocos. O governo marroquino autorizou uma cota de 20 mil toneladas de carnes bovina, ovina, caprina e camelídea do Brasil isentas do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA). No país africano, a taxação chega a 200% para a carnebovina congelada, por exemplo. Em troca, o Brasil abriu seu mercado para as tangerinas marroquinas.
Após as tratativas, o governo marroquino incluiu na lei orçamentária de 2025 valores suficientes para isentar o dobro da cota, ou seja, até 40 mil toneladas. A Turquia já importa gado vivo do Brasil e é o principal parceiro comercial nesse item. Os turcos compraram 368 mil cabeças de bovinos brasileiros em 2023, com negócios de quase US$ 300 milhões.