O duelo entre Andraus e Azuriz deve ter passado despercebido para quem transitava nos arredores na Vila Capanema, na manhã da última quarta-feira (15).
Havia vagas de sobra para carros e movimentação nula de torcedores no entorno. O silêncio na praça esportiva em nada indicava um duelo válido pela elite do Campeonato Paranaense.
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Mas quem encarou a manhã cinzenta e de vento cortante de Curitiba e atravessou as catracas da Vila provavelmente não se arrependeu.
A partida possibilitou uma experiência raiz no Ruralzão, em que os bastidores da bola, geralmente escondidos dos olhos do público, estiveram escancarados à luz do dia. Tentamos contar como foi.
Andraus x Azuriz: Ruralzão em estado puro
Logo na primeira faixa das arquibancadas das sociais, sentado no piso azul, já encontramos o ex-meia Tcheco, aguardando o pontapé inicial.
Ex-técnico do Tricolor, estava ali para rever amigos, como Hiago e Vinicius Kiss, do Andraus, e o técnico Emerson Cris, ex-volante do Paraná e técnico do Azuriz.
Alguns passos mais e damos de frente com o ex-volante Hélcio Alisk.
Atual empresário da bola, o ex-meia raçudo de Paraná e Coritiba ostentava novos cabelos ao vento, preparado para observar, por detrás dos óculos de sol escuros, algum novo talento em campo.
Poucos metros adiante e, no outro extremo das sociais, Pachequinho acomodava-se atento em uma das cadeiras.
O ídolo do Coritiba é o atual diretor de futebol do São Joseense. Observava os futuros adversários na competição.
Quem chegou um pouco atrasado foi o ex-zagueiro Henrique.
Ao lado do filho, que tenta trilhar o mesmo caminho do pai, o ex-atleta do Coritiba, que teve passagem pelo Barcelona e disputou a Copa do Mundo 2014 com a seleção brasileira, exercia a nova função de cartola.
Henrique é o atual presidente do Nacional-PR e alterna os dias entre a capital e Campo Mourão, no interior do estado.
Se olhássemos um pouco para cima, em um dos camarotes, o presidente de honra do clube mandante, Nadim Andraus, observava o gramado com nervosismo e pinta de lutador casca grossa.
Uma Vila Capanema repleta de empresários da bola
As arquibancadas também estavam repletas de empresários.
Em vez de gritos de torcida, ouvíamos os sons ao telefone, em conversas aparentemente urgentes e inadiáveis.
“Em qual ano ele nasceu? Me passa o currículo do menino para a gente tentar agendar um teste no Sub-20”, dizia um deles, que não largou o aparelho a partida toda.
Filho de Munir Calluf, figura histórica do futebol paranaense, o empresário Miguel Calluf era um deles.
Responsável pela carreira do volante Erick, que trocou o Athletico pelo Bahia, estava de olho em Júlio César, atacante do Andraus. E saiu do estádio feliz: o jovem jogador anotou um dos gols da vitória de sua equipe.
Já Luiz Alberto Oliveira, da LA Sports, passou o primeiro tempo batendo papo com Pachequinho. Empresário bom não perde a oportunidade.
Logo viu o diretor do São Joseense, passou o primeiro tempo com o celular em mãos, quem sabe apontando um potencial reforço para o clube de São José dos Pinhais?
Olheiros à moda antiga, caderninho nas mãos, também observavam atentos. Neste insólito duelo, os bastidores da bola estavam ali, escancarados sob o céu do meio-dia.
Ruralzão em clima de festa do interior
A atmosfera na Vila era de festa do interior.
Do lado do Azuriz, cerca de 30 torcedores observavam a partida em silêncio quebrado apenas por alguns xingamentos ao juiz. Da parte do Andraus, a torcida era composta, em sua maioria, pelos jogadores das categorias de base do clube.
No intervalo, em clima de quermesse, a turma se dirigiu à lanchonete e saiu feliz, com risoles de carne e espetinhos de frango, copos de Coca-Cola e cerveja.
Com a bola rolando, era possível ouvir os sons das batidas na bola, discernir as conversas entre os jogadores, as broncas do árbitro, assim como as cobranças dos técnicos Emerson Cris e Claudemir Sturion.
Uma experiência quase intimista.
Após uma dividida mais dura, os gritos de dor de um dos atletas ecoaram com nitidez nas arquibancadas. O público reagiu com caretas, como se eles mesmos sentissem o golpe.
No fim, o Andraus venceu por 2 a 0. Teve até uma lambreta, que resultou em pênalti cobrado pelo meia Hiago e agitou a garotada da base que assistia à partida nas cadeiras.
Até mesmo o carrancudo Sturion esboçou um sorriso com o lance. Coisa rápida. Logo se recompôs e voltou a adotar a contumaz expressão preocupada.
No fim das contas, o jogo na Vila não foi grande coisa, mas a experiência fora de campo presenteou a quem compareceu com um dia raiz no Ruralzão 2025.