“Blue Monday“: por quê esta segunda é considerada o dia mais triste do ano?

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Como se precisássemos de mais motivos para refletir sobre nossos próprios estresses ou os problemas do mundo, o dia 20 de janeiro (hoje) é a chamado de “Blue Monday” — a terceira segunda-feira de janeiro, supostamente o dia mais deprimente do ano.

Mas será que é mesmo?

Pesquisas não comprovaram que há um dia específico mais deprimente do que os outros. Na verdade, isso é um golpe publicitário que, infelizmente, se consolidou na cultura moderna. Todo mês de janeiro, blogs compartilham dicas sobre como escapar do desânimo, empresas aproveitam para promover seus produtos e serviços “revigorantes”, e as redes sociais seguem o fluxo.

A origem de um mito sobre saúde

A Blue Monday começou com um comunicado à imprensa.

Em 2005, o agora extinto canal de TV britânico Sky Travel enviou aos jornalistas um entusiasmado anúncio promocional afirmando que, com a ajuda de um psicólogo, havia calculado o dia mais miserável do ano.

A equipe aparentemente desenvolveu essa ideia com uma fórmula complexa criada pelo psicólogo britânico Cliff Arnall. A fórmula considerava fatores como o clima para calcular o ponto mais baixo emocional das pessoas.

A intenção inicial era analisar quando as pessoas reservavam viagens, partindo da hipótese de que elas eram mais propensas a comprar passagens para um paraíso tropical quando estavam se sentindo desanimadas. Arnall foi então solicitado a identificar o melhor dia para marcar uma viagem de férias, e assim nasceu a ideia do “dia mais triste do ano”.

O que realmente afeta nosso humor no inverno?

“É comum que as pessoas se sintam mais tristes durante o inverno, e janeiro não é uma exceção para esse aumento geral de tristeza,” disse o Dr. Ravi Shah, psiquiatra e ex-diretor de inovação do departamento de psiquiatria do Centro Médico Irving da Universidade Columbia, em Nova York, em 2020. “Então, em vez de focar em um dia específico, acho que a questão mais interessante é: o que há no inverno que afeta nosso humor?”

Parte do combustível para o mito da Blue Monday pode ter vindo de uma pesquisa feita no Japão. Em 2009, verificou-se que as taxas de suicídio nas segundas-feiras entre homens japoneses eram significativamente mais altas do que em outros dias da semana, especialmente na faixa etária economicamente ativa. Isso sugeriu que a estrutura da semana de trabalho e as dificuldades econômicas poderiam ser os principais culpados.

Nenhum desses fatores pode ser medido de forma consistente ou comparado com a mesma unidade. A fórmula não pode ser avaliada nem verificada adequadamente. Por exemplo, não há como medir o número médio de dias desde que as pessoas desistiram de suas resoluções de Ano Novo. Além disso, o clima em janeiro varia muito entre estados, países e continentes. Em resumo, não há nenhum mérito científico nisso.

“Eu não fazia ideia de que isso ganharia a popularidade que tem hoje”, disse Arnall à CNN. “Acho que muitas pessoas se reconhecem nisso.”

Ele também afirmou fazer campanha contra sua própria ideia, como parte de um suposto grupo ativista chamado Stop Blue Monday. Contudo, descobriu-se que o grupo era, na verdade, outra campanha de marketing — dessa vez promovendo o turismo de inverno para as Ilhas Canárias.

Arnall, no entanto, não se arrepende: “Não me arrependo de nada”, disse, acrescentando que já usou a mídia em outras ocasiões para iniciar conversas sobre psicologia. “Meu problema com a psicologia acadêmica e as publicações revisadas por pares é que elas não têm muito impacto sobre as pessoas comuns.”

Ele recebeu 1.200 libras esterlinas para criar o conceito da Blue Monday.

A visão de Arnall não é bem aceita entre os especialistas: “Essa não é a maneira certa de conscientizar as pessoas,” disse o Dr. Antonis Kousoulis, diretor da Global Mental Health Action Network, em 2020. “Ao dizer que este dia é o mais deprimente do ano, sem qualquer evidência, estamos banalizando a seriedade da depressão.”

Segundo ele, a saúde mental é o maior desafio de saúde da nossa geração. “Trivializá-la é completamente inaceitável.”

O Dr. Ravi Shah concorda: “Depressão não é um fenômeno de um único dia. É uma síndrome clínica que deve durar pelo menos duas semanas, afetando a maior parte do dia, na maioria dos dias.”

No entanto, a tristeza sazonal é real

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