Donald Trump assumiu nesta segunda-feira (20/1) a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez. Ele começa o novo mandato com a promessa de, assim como no primeiro, priorizar o que, na visão dele, são os interesses de empresas, trabalhadores e governo americanos, fazendo isso em detrimento, se necessário, de acordos internacionais que já estão em vigor. Essa política – “patriótica”, segundo a definição de Trump; protecionista, como descrevem opositores e também manuais de relações internacionais — inclui o comércio de produtos agropecuários, uma frente que muito interessa ao Brasil.
Alguns segmentos do agro brasileiro parecem animados com um possível efeito positivo do governo Trump sobre as vendas do Brasil ao mercado americano. Em parte, esse aparente otimismo tem relação com o aumento das exportações de produtos agropecuários aos EUA durante o primeiro mandato do presidente americano. Nos quatro anos do primeiro governo Trump, de janeiro de 2017 a janeiro de 2021, o volume dos embarques cresceu 32,3%, para 7,7 milhões de toneladas, segundo o Agrostat, o sistema do Ministério da Agricultura que reúne estatísticas de comércio exterior do agro nacional. A receita com as vendas aos EUA, por sua vez, aumentou 11,3%, a US$ 6,9 bilhões em 2020 — Joe Biden assumiu a presidência em janeiro do ano seguinte.
Em grande medida, o aparente efeito positivo do governo Trump sobre o agro brasileiro tem relação com as sobretaxas que os Estados Unidos passaram a cobrar sobre produtos chineses a partir de 2018. Essa decisão levou a China a responder com aumento de tarifas sobre produtos americanos, entre eles a soja, o que acelerou as vendas brasileiras do grão — o principal item de exportação do agro brasileiro — ao mercado chinês. Em 2020, o Brasil embarcou 60,8 milhões de toneladas de soja para a China, um volume 56,7% maior do que o de quatro anos antes.
O segmento de produtos florestais, que inclui papel e celulose, é o que mais rende divisas ao agro brasileiro nas exportações aos EUA: ele responde, sozinho, por cerca de 40% das receitas do Brasil nos embarques ao mercado americano. Durante o primeiro governo Trump, o volume das exportações desses itens aos Estados Unidos cresceu 36,3%, para 4,6 milhões de toneladas, e a receita, 30%, para US$ 2,7 bilhões.
O desempenho foi positivo para o agro nacional, o que não significa que o fenômeno vá necessariamente se repetir no segundo governo de Donald Trump. “Esse clima mais protecionista pode gerar oportunidades para o universo agro nacional, por exemplo, no mercado chinês (…) Todavia, não é razoável descartar que alguns produtos agropecuários que o Brasil exporta para os EUA também sejam alvo de [aumento de] barreiras tarifárias, como produtos florestais (principalmente, papel e celulose) e proteínas de origem animal”, escreveram, em artigo recente, os pesquisadores Felippe Serigatti e Roberta Possamai, do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), e André Diz, professor do MBA em gestão do agronegócio da instituição.
O volume das exportações de café, o segundo item que mais gera divisas ao Brasil nas vendas aos EUA, cresceu 20,6% durante o primeiro mandato de Trump, para 448,2 mil toneladas. Já a receita com os embarques cresceu menos de 1%, chegando a US$ 1,03 bilhão, segundo o Agrostat.
O mercado de sucos foi um dos que perderam espaço nos EUA durante o primeiro mandato de Trump. O volume dos embarques caiu 5% nesse intervalo, para 566,5 mil toneladas, e a receita quase 30%, para US$ 324,8 milhões. O declínio dos embarques de lácteos foi ainda mais forte: o volume caiu 44%, para 2,3 mil toneladas.
Não se pode dizer que o aumento dos embarques de itens como café e produtos florestais tenha sido resultado de eventual primazia ao Brasil durante a primeira era Trump. As exportações de café, por exemplo, a despeito das oscilações naturais que ocorrem nas lavouras — o grão alterna colheitas de alta e baixa produtividade a cada dois anos —, nunca mais ficaram abaixo de 300 mil toneladas desde que ultrapassaram essa faixa pela primeira vez, em 2009. Já na era Biden, as vendas só ficaram abaixo de 400 mil toneladas no ano de 2023. No ano passado, os embarques alcançaram 471,5 mil toneladas, o maior volume da história.