Chuvas provocam perdas na soja e transtornos na MT-322 no extremo norte de Mato Grosso

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O excesso de chuvas tem provocado atrasos e transtornos na colheita da soja no extremo norte de Mato Grosso. Algumas lavouras mais adiantadas registram perdas significativas na qualidade do grão, ao mesmo tempo em que alguns trechos não pavimentados da MT-322 estão sendo duramente castigados pela alta concentração de água. Produtores, empresários, motoristas e até lideranças indígenas cobram melhorias e a pavimentação total da rodovia estadual.

Pouco mais de 30% dos 3.450 hectares de soja cultivados pelo produtor Jandir Sima estão prontos para colher. Alguns, segundo o produtor, inclusive já passando do ponto. Ele comenta à reportagem do Canal Rural Mato Grosso, que para tentar vencer a alta umidade e evitar perdas, uma força tarefa junto aos vizinhos foi montada.

“Estamos com a união dos vizinhos. A nossa região é muito unida. Já estamos com 1,8 mil, 1,9 mil milímetros [acumulados] de setembro até hoje. Nós estamos, praticamente, com 50% de 1.180 hectares que está dessecado com 50% de perdas, de avariados. Esse ano já estamos no vermelho. A dívida vai só aumentando com o nosso maquinário que foi comprado na alta. Vender a soja na baixa, nós não damos conta de pagar as parcelas. Vamos ter que ir atrás dos bancos, vamos ter que buscar recurso este ano para deixar a fazenda em dia e ficar devendo no vermelho”.

Temor de quem ainda não colheu em Mato Grosso

Até quem não tem soja pronta, como é o caso do produtor Alcindo Antônio Rosseto, teme perdas expressivas na safra dentro da propriedade em decorrência do acumulado de chuvas registrado.

“Chove fora do comum. É coisa de louco. Eu nunca vi nesses oito anos que estou aqui chuva igual. Para se ter uma ideia, nós vamos ter nesses seis mil hectares quase mil hectares de brejo que não vai dar para colher. Não vai entrar máquina, vai ter que deixar lá e abandonar”, diz Alcindo.

Conforme o produtor, muita soja deverá ficar pronta ao mesmo tempo, ligando o alerta também para a armazenagem.

“Temos armazéns, mas é pequeno. Não suporta a nossa colheita. Temos dez máquinas para colher e colhe 30 mil sacas em um dia e como é que seca? Nossa região vai perder muita soja”, salienta Alcindo.

O diretor da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso), Diego Bertuol, conta que há grãos germinando no pé. Além disso, as chuvas estão atrasando as aplicações de defensivos agrícolas, elevando a presença da mosca branca.

“O grão ele encharca, começa a secar e encharca novamente e começa arder e a brotar. Nós vemos até a soja verde com o terço inferior tendo brotação, tendo grão germinado no seu pé. Estamos com os defensivos atrasados. Temos uma alta infestação de mosca branca. Tivemos uma concentração do plantio. Então, mesmo que a gente não faça a dessecação, vamos ver a soja chegar junto. Nós vamos ter problemas na hora do recebimento. Isso a Aprosoja já alertou há alguns meses que esse seria o cenário. Então tudo vai impactando de modo negativo nesse extremo norte de Mato Grosso”, frisa ele ao Canal Rural Mato Grosso.

Patrolas e guinchos atolam na MT-322

Da porteira para fora também há transtornos provocados pela chuvarada no estado. Alguns trechos ainda não pavimentados da MT-322, considerada a principal via de escoamento da produção agropecuária na região, estão sendo duramente castigados pelos atoleiros.

O caminhoneiro Willian dos Santos Cristino é um dos que sofrem ao ter que passar pela região. Atolado no trecho sem asfalto, ele viu as dificuldades aumentarem ainda mais quando até a patrola que ajudava a puxá-lo atolou.

Já o caminhoneiro Edgar José Fortuna comenta à reportagem que está desde domingo tentando completar 25 quilômetros.

Empresário na região no setor pecuário, Milton Bellincanta revela ao Canal Rural Mato Grosso que já nos primeiros dias de 2025 teve animais que chegaram a ficar dois dias embarcados. “Tivemos que descarregar os animais em fazendas de terceiros para que eles pudessem se alimentar, beber água e carregar novamente para chegar ao destino e fazer o abate. Demoraram seis dias entre a data de embarque e a data de abate. Então você vê o prejuízo que isso causa tanto para as escalas aqui da indústria como para o próprio produtor”.

Lideranças indígenas endossam pedido de pavimentação

A reivindicação na região é pela pavimentação de aproximadamente 124 quilômetros de extensão da MT-322, entre os municípios de Peixoto de Azevedo e São José do Xingu, passando dentro do território do Xingu e das terras indígenas Capoto Jarina, trecho que segundo o setor produtivo aguarda a liberação do licenciamento ambiental do Ibama para poder receber asfalto.

A pavimentação da MT-322, de acordo com o empresário Milton Bellincanta, inclusive, foi tema de uma reunião feita com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), lideranças indígenas, representadas pelo Cacique Raoni, e também com produtores, prefeitos e vereadores da região.

A reunião, explica ele, teve como intuito buscar “o apoio do governo para que consigamos dentro dessa próxima semana uma audiência em Brasília junto a Funai, junto ao Ibama para que haja um destravamento desse ofício de qual a Sema foi notificada dando conta de que os licenciamentos ambientais para as obras aqui na rodovia dependam do Ibama e não mais da Sema”.

Em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, o Cacique Raoni Metuktire, afirmou que disse ao governador Mauro Mendes que “eu quero que aconteça esse asfalto. Arrumar a estrada é emergencial. Eu estou aqui para falar de novo. Eu quero pedir ao Ibama e a Funai para poder ajudar a autorizar, porque está muito ruim. Eu quero uma estrada boa para poder sair com o paciente da gente. E não é só um paciente. É muita gente. E eu estou aguardando a resposta do governador de que dia nós vamos para Brasília”.


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Canal Rural Mato Grosso

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