As taxas dos DIs despencaram nesta quinta-feira (30), reagindo ao comunicado de política monetária do Banco Central na véspera e ao fechamento de mais de meio milhão de empregos formais em dezembro no país, em um sinal de que a economia brasileira está desacelerando.
O recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após o Banco Central Europeu (BCE) cortar juros, era outro fator que contribuía para o fechamento da curva a termo brasileira.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para julho de 2025 — um dos mais líquidos no curtíssimo prazo — estava em 14,085%, ante o ajuste de 14,177% da sessão anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 14,915%, em baixa de 47 pontos-base ante o ajuste de 15,385%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,79%, em queda de 31 pontos-base ante 15,102% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,76%, ante 15,023%.
Na noite de quarta-feira (29), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic em 100 pontos-base, para 13,25%, como era largamente precificado na curva, e manteve no comunicado a previsão de nova alta na mesma magnitude em março, sem se comprometer para a reunião seguinte, em maio.
O fato de o BC não indicar outra alta de 100 pontos-base em maio levou parte do mercado a avaliar que o comunicado foi dovish (brando) em relação ao controle da inflação, o que abriu espaço para a forte retirada de prêmios nos trechos curto e médio da curva nesta quinta. Profissionais ouvidos pela Reuters na noite de quarta-feira já haviam projetado possíveis ajustes de baixa das taxas em função do comunicado.
“Eu entendi a decisão do BC como acertada, e a comunicação como certa. O que muita gente colocou é que foi dovish, já que não contratou altas adicionais para a Selic além de março”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O viés de baixa para as taxas foi intensificado pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado às 10h00. O relatório do Ministério do Trabalho e Emprego mostrou que o Brasil fechou 535.547 vagas formais de trabalho em dezembro, no pior resultado para o mês da nova série do Caged, iniciada em 2020.
O fechamento líquido de vagas em dezembro — mês em que historicamente há mais desligamentos do que admissões — superou a expectativa de economistas apontada em pesquisa da Reuters, de encerramento de 402.500 vagas.
“Já havia sinais de que a economia vinha se desacelerando antes do Caged de hoje, a partir de dados da indústria, da confiança do consumidor. O Caged reforçou isso”, disse Spiess.
Os números do Caged afundaram as taxas futuras ainda mais, em meio à avaliação de que, com a desaceleração da economia, o Copom pode de fato reduzir o ritmo de alta de juros depois de março.
A baixa continuou se intensificando ao longo da tarde, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma defesa pública do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo a jornalistas no Planalto que ele é um “ministro extraordinário”.
Lula afirmou ainda que a decisão de reajustar o diesel é da Petrobras e que a estatal não precisa avisá-lo sobre isso.
Em outro momento, disse que tem consciência de que o novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, não pode dar um “cavalo de pau” nos juros. “Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente (Roberto Campos Neto), e o Galípolo fez o que ele entendeu que deveria fazer. Temos consciência de que é preciso ter paciência”, pontuou Lula.
Para completar a bateria de notícias no Brasil, o Tesouro informou que o governo central teve superávit primário de R$ 24,026 bilhões em dezembro, acumulando um saldo negativo total de R$ 43,004 bilhões em 2024, ou 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB).
O dado inclui despesas extraordinárias que não serão contabilizadas na apuração da meta fiscal, como os gastos para mitigar efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul. Excluindo essas despesas, o déficit do ano cai a R$ 11,032 bilhões, segundo o Tesouro.
Com o recuo dos Treasuries também ajudando no exterior, as taxas dos DIs renovaram mínimas durante a tarde. Às 16h02 a taxa do vencimento para janeiro de 2028 atingiu o piso de 14,74%, em baixa de 50 pontos-base ante o ajuste da véspera.
A queda dos yields esteve em grande parte ligada ao corte de 25 pontos-base da taxa de juros pelo BCE, com a instituição mantendo a possibilidade de novas reduções à frente. Às 16h40, o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 4 pontos-base, a 4,514%.
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