Vice de Nunes sobre muro na Cracolândia: “É uma coisa tão insignificante“

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A Cracolândia tem se mostrado um desafio para quem assume a gestão da Prefeitura de São Paulo. Na última eleição municipal, realizada em outubro de 2024, o assunto foi um dos principais temas em todos os debates. E todos os cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas tinham propostas relacionadas ao tema.

Na época, Ricardo Nunes (MDB), que já estava à frente da Prefeitura – e que venceu a eleição para um segundo mandato -, falou à CNN sobre uma abordagem multisetorial, combinando ações articuladas de segurança, saúde, assistência social e direitos humanos na região central.

Inclusive na campanha para a reeleição, ele propôs a integração com as forças de segurança estaduais no combate ao tráfico de drogas e à criminalidade.

Só que, recentemente, a Prefeitura de São Paulo entrou na mira do Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de um muro, construído justamente na região da Cracolândia.

O PSOL acionou o STF contra a Prefeitura em uma ação que pedia a derrubada da construção em um prazo máximo de 24 horas. Os parlamentares justificam que ao construir “um muro que isola e exclui socialmente as pessoas que vivem na Cracolândia, a Municipalidade comete um ataque brutal e inconstitucional contra o conjunto dos direitos fundamentais consagrados pela Constituição”.

Em resposta ao Supremo, Ricardo Nunes (MDB) disse que o muro evita acidentes e não segrega a população de rua.

O vice-prefeito e ex-policial militar, coronel Mello Araújo (PL), tem dedicado especial atenção à Cracolândia. No Instagram, tem anunciado trabalhos de recuperação dos dependentes químicos. São 29 publicações na rede social, das quais pelo menos 12 são fotos ou vídeos de ações no local. “Estou vendo os gargalos, entendendo o que não funciona e melhorando”, escreveu ele no dia 13 de janeiro.

À CNN, Mello Araújo disse que, na visão dele, o muro é “insignificante”.

“Esse muro existe há mais de um ano e eu que estou indo lá… é uma coisa tão insignificante porque ninguém está impedido de ir e vir. Então eles saem, eles voltam…”, afirmou.

O prefeito Ricardo Nunes sustenta a afirmação de que o muro foi, na verdade, construído em substituição a tapume e gradil de metal. Para Mello Araújo, “é um problema da cidade de São Paulo e é um problema no mundo”. “É uma questão que todo mundo tem que lidar com isso e quando vai ali, para a porta da sua casa, ninguém quer”, completou o vice-prefeito.

“Parece um trabalho de formiguinha.”

Na entrevista à CNN, o coronel Mello Araújo destacou o trabalho que tem feito na região da Cracolândia. De acordo com ele, cada vez que vai – em conjunto com a equipe médica que atua no local -, “são cinco ou seis pessoas, pelo menos”, que são convencidas a iniciar o tratamento.

“Tenho ido lá quase todo dia, conversando com a equipe médica, é um pessoal diferenciado porque você ficar lá todo dia… e uma coisa que não é agradável”, adicionou.

Pouco antes do segundo turno, em outubro de 2024, Mello Araújo comentou sobre o assunto em sabatina à CNN. Na época, ele disse ser a favor da internação compulsória.

“Se eu tivesse um filho lá, largado, dependente, eu gostaria que ele fosse internado, muitos que estão lá não tem parentes para assinar a internação. Eu entendo que a internação compulsória seria a solução, só que a gente não consegue porque você precisa convencer o Ministério Público e o Judiciário disso”, disse na ocasião.

Além da Cracolândia, coronel Mello Araújo, que já foi diretor-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), diz que pretende focar em outras áreas também. Ele conta que não quis assumir nenhuma Secretaria, justamente para que pudesse atuar em várias frentes.

“Desde o começo, eu falei que eu não queria cargo de secretário. Antes, acho que tem um ano e meio atrás, não tinha nada de eleição e o Ricardo me convidou para ser secretário e eu não aceitei, eu tinha outras demandas e não aceitei. Então, quando veio esse negócio de vice-prefeito, eu aceitei e para ser vice… se eu sou secretário, eu fico muito focado em uma Secretaria”, afirmou.

“Não é uma tarefa fácil.”

Ele conta que as histórias são tristes, mas que “é muito bom ouvir porque a gente pode procurar gargalos, onde poderíamos melhorar, em todos os sentidos, na prevenção, no tratamento, para que nós possamos arrumar”.

O objetivo, ele diz ser convencer os dependentes a aceitar o tratamento de reabilitação e posteriormente recolocá-los no mercado de trabalho.

“Ideia é recolocá-los, vai ter que desintoxicar, o que é difícil, muitos desistem”, revelou.

Situada na região central da capital paulista, a média de dependentes químicos que transitam pela Cracolândia é de 159 no período matutino e 260 no período vespertino, de acordo com informações do painel de monitoramento da maior aglomeração das cenas de uso da região da Luz, atualizado pela Prefeitura da capital.

O local se tornou também, com o passar do tempo, cena de crimes como lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. No ano passado, em junho, a Polícia Civil realizou uma operação contra uma quadrilha especializada, que utilizava os hotéis no centro de São Paulo, situados na Cracolândia, para lavar dinheiro.

A investigação, que durou cerca de um ano, identificou que traficantes utilizavam 28 estabelecimentos de hospedagem para armazenar e distribuir drogas, além de camuflar o fluxo de capital ilícito.

Histórico das ações de Nunes na Cracolândia

A gestão anterior de Nunes se envolveu em algumas polêmicas sobre a região.

Em junho do ano passado, por exemplo, o prefeito criticou uma ordem judicial que proibia o uso de bombas e balas de borracha pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) durante operações na Cracolândia.

Segundo o prefeito, “ali tem traficante, eles têm comando sobre essas pessoas”, e “se vier pra cima da gente, vai tomar na testa“.

Em agosto de 2023, a GCM implementou um rodízio de endereço para o fluxo de dependentes químicos na região. Após protestos de comerciantes da Rua Santa Ifigênia, a medida foi colocada em prática para reduzir o incômodo.

A iniciativa foi concebida pela Prefeitura de São Paulo em conjunto com o governo paulista.

Em novembro de 2023, os dependentes foram impedidos de voltar ao local onde, inicialmente, ficava a Cracolândia. O fluxo se deslocou pela primeira vez para a Rua Mauá, em noite marcada por conflitos com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e com a Polícia Militar.

Depois, migrou por ruas da região e, hoje, o “fluxo” principal está concentrado entre as ruas dos Protestantes e dos Gusmões, onde a Cracolândia surgiu na década de 1990.

Medidas

À CNN, a Prefeitura de São Paulo informou que atua na “atenção à saúde, acolhimento, reinserção social e capacitação profissional a pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas e estão em situação de vulnerabilidade ou risco social”.

Veja a nota da Prefeitura na íntegra:

Entre janeiro e dezembro de 2024, houve redução de 73,14% na média de pessoas no local.

A redução do fluxo no local deve-se ao aprimoramento dos encaminhamentos feitos pelas equipes de Saúde e Assistência Social, à ampliação das ações de Segurança Pública com o uso de câmeras e tecnologia, e às estratégias para evitar que novas pessoas retornem à CAU [Cena Aberta de Uso].

Para melhorar as condições de atendimento às pessoas mais vulneráveis dentro do fluxo, a Prefeitura implantou, em 2024, o Espaço da Saúde em parte da Rua dos Protestantes, favorecendo o trabalho dos agentes de saúde e assistência social, garantindo maior segurança para as equipes e facilitando o trânsito de veículos.

Em lugares com ocupações momentâneas ou periódicas na cidade, sobretudo por pessoas em situação de rua, a Prefeitura realiza abordagens de forma ativa por 1.600 agentes, que oferecem acolhimento e encaminhamento a serviços de saúde.

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