A Petrobras anunciou nesta sexta-feira (31) um reajuste no preço do diesel em 6,29% aos distribuidores. A alta de R$ 0,22 ao litro eleva o preço médio do combustível a R$ 3,72.
Além da alta por parte da estatal, o preço do diesel também deve subir cerca de R$0,06/litro a partir deste sábado (1º) com o reajuste da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estima que para o consumidor final, considerando a participação do diesel puro de 86%, o impacto deve ser de R$0,25/litro, considerando tanto o reajuste da Petrobras quanto o do ICMS.
“Se, provisoriamente, reduzir o teor de biodiesel no diesel, este impacto poderá ser anulado. Permitindo ainda um aumento na arrecadação do Governo”, afirma Sérgio Araujo, presidente da Abicom.
Porém, economistas ouvidos pela CNN ressaltam que, diretamente, o diesel tem pouca importância para o bolso do consumidor.
“Ele compromete 0,23% do orçamento das famílias, então, comprometimento pequeno porque poucas são as famílias que usam carro diesel”, diz André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
Contudo, a preocupação fica em torno do impacto em outros preços.
Preço dos alimentos
“O efeito indireto é maior em toda a cadeia produtiva, logística e espalha-se por causa do preço de frete. O impacto geral do diesel é difícil de estimar e o timing disso também”, avalia Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena.
A economista pontua que o reajuste também “não ajuda” em um momento no qual uma das principais preocupações é com o comportamento sensível do preço dos alimentos.
Nos últimos meses, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem, repetidamente, apontado os alimentos dentre os principais culpados pela alta da inflação no país.
Na sexta-feira passada (24), o IPCA-15 (indicador tido como a prévia da inflação oficial) de janeiro registrou alta de 0,11% no mês. Apesar de desacelerar ante dezembro, quando estava em 0,34%, o índice continuou sendo puxado por alimentos e bebidas, que subiram 1,06% em janeiro.
O governo busca alternativas para conter o preço dos alimentos. Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avalia que as expectativas por uma safra mais forte e o câmbio mais controlado neste ano devem acomodar a inflação.
Contudo, o reajuste do diesel pode se tornar mais uma pedra neste sapato.
“Entra no radar de preocupação por conta da questão logística, principalmente. É inegável o impacto indireto”, afirma Fábio Romão, consultor de inflação da LCA.
“Algumas coisas ficaram mais pesadas, por exemplo alimentação no domicílio, a grosso modo o supermercado”, indica Romão, acrescentendo que a LCA reajustou suas estimativas para a inflação de alimentos em 2025 de alta de 6% para 6,4%.
Inflação generalizada
Segundo levantamento da ferramenta LCA 4intelligence, o reajuste deve chegar no varejo com impacto de 0,22 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio.
Romão ressalta que o impacto do diesel pega não só nos alimentos, mas em outros grupos também. A projeção da casa para os preços de serviços, por exemplo, subiram de 6% para 6,2%.
“O impacto do diesel aparece de maneira espalhada no IPCA, com mais intensidade em alimentos”, pontua.
André Braz, do FGV/Ibre, ainda destaca o impacto que esse reajuste pode ter nos preços de energia, uma vez que o diesel é utilizado para abastecer as usinas termelétricas.
“É um combustível estratégico, que tem potencial de espalhar a inflação por vários segmentos”, avalia Braz.
“Então, não importa que você não tenha carro movido a diesel, porque de alguma forma o aumento do diesel chega a você. Ou encarecendo os produtos da feira livre ou o transporte de ônibus urbano. De alguma maneira ele vai ser percebido no orçamento”, conclui.
Datafolha: Maioria da população acredita que inflação piorará em 2025