proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que a população boicote alimentos caros, tem sido explorada pela oposição. A reação foi imediata nas redes sociais e acontece em meio aos esforços da comunicação do governo para melhorar a imagem da atual gestão e do próprio Lula.
“Se todo mundo tivesse a consciência e não comprar aquilo que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, senão vai estragar. Isso é da sabedoria do ser humano”, afirmou o presidente na quinta-feira (6).
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) — algoz do governo no episódio do monitoramento do Pix — voltou a viralizar com um vídeo publicado horas depois da fala do presidente. No Instagram, a publicação já tinha mais de 26 milhões visualizações e 1,7 milhão curtidas na manhã desta sexta-feira (7).
O vídeo mostra Nikolas ironizando a fala do presidente ao listar diversas situações em que a solução seria deixar de consumir o que está caro. Ele diz, por exemplo: “se a água está cara, é só não tomar banho” ou “se a passagem está cara, é só ficar em casa”.
Mais cedo, o deputado já havia feito outra publicação sobre a fala de Lula. A postagem mostra declarações de ministros do governo sugerindo substituir alimentos e itens que estão caros por outros. “Plano de governo: substitua o alimento ou compre outro dia”, escreveu Nikolas.
Outros políticos da oposição também utilizaram as redes sociais para criticar a declaração de Lula.
O senador Flávio Bolsonaro (PL) compartilhou um vídeo com o trecho da fala do presidente e ironizou: “alguém pode rodar uma pesquisa após este vídeo, por favor?”. O senador faz referência às pesquisas de opinião que mostram uma queda na popularidade de Lula e na intenção de voto nele para 2026, principalmente após o episódio do monitoramento do Pix.
O senador Ciro Nogueira (PP) também compartilhou a fala de Lula e comentou: “nada de cortar gastos nos ministérios, colocar gente competente nas estatais ou gerir melhor a economia. Para o governo, basta que os brasileiros parem de comer, beber e se deslocar que os preços caem”, afirmou o parlamentar.
O senador Sergio Moro (União Brasil) publicou um vídeo em que aparecem diferentes notícias sobre gastos do atual governo com viagens e alimentação. “Para Lula, a população, para combater a inflação, não deve comprar o produto se estiver caro. Já quando os gastos são do Lula, o céu é o limite”, disse.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) escreveu: “quem não se indignar com mais essa fala absurda [de Lula], precisa urgentemente de tratamento”.
Já Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, disse que o governo Lula é o governo do “cinismo”, que “deixa o povo cada vez mais pobre enquanto sua família vive no luxo bancado pelo Brasil”.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, rebateu as críticas. Disse à CNN considerar o consumidor como “rei”, no que se refere ao preço dos alimentos.
“Nós entendemos que o consumidor é o rei e ele é quem manda no sentido de fazer com que os produtos abaixem de preço”, afirmou.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abrava), a cesta básica de alimentos ficou 14,22% mais cara no ano de 2024. Teixeira disse acreditar que os preços baixarão para esse próximo ano.
“Nós achamos que vai diminuir o preço dos alimentos no Brasil, associados a uma supersafra, associado ao fim do ciclo do boi, associado à concentração do crédito agrícola nos alimentos da cesta básica”, disse.
Conversa com ministros
Na mesma entrevista em que sugeriu boicote a produtos caros, Lula disse que tem mantido conversas com empresários e ministros sobre o preço dos alimentos.
“Isso não é programa de governo. É quase uma profissão de fé. Comida barata na mesa do trabalhador é uma coisa que nós estamos perseguindo”, disse o presidente.
*Sob supervisão de Ronald Johnston
