Antigos humanos que viviam na Europa podem ter retirado e consumido os cérebros de seus inimigos mortos, sugere um novo estudo.
No estudo, publicado na semana passada na revista Scientific Reports, pesquisadores examinaram os ossos de pelo menos 10 pessoas da cultura Magdaleniana que viveram na Europa entre 11.000 e 17.000 anos atrás.
Usando técnicas de imagem, a equipe de pesquisadores de institutos da França, Espanha e Polônia identificou tipos de marcas e cortes “associados à remoção da medula nos ossos longos e do cérebro nos crânios“.
Vários outros estudos demonstraram que o canibalismo era relativamente comum entre os povos Magdalenianos, tanto como rito funerário quanto como forma de violência. Mas este caso específico “foi um caso de guerra”, argumenta Francesc Marginedas, co-autor principal do estudo, porque não havia “nenhum tipo de tratamento especial em comparação com outros sítios Magdalenianos”, nem a presença de copos cranianos, “que está relacionada à ritualização dos corpos”.
![Ainda existem teorias conflitantes sobre o motivo pelo qual os magdalenianos cortavam os crânios dos mortos](https://www.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2025/02/europeus-comer-cerebro-fossil-2.jpg?w=1024)
Marginedas, arqueólogo do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social na Espanha, fez parte de uma equipe que estudou os ossos depositados na Caverna Maszycka, perto de Cracóvia, Polônia – um conhecido sítio pré-histórico que tem sido extensivamente estudado por décadas. Durante esse tempo, diferentes teorias surgiram para explicar por que os antigos Magdalenianos abriram os crânios dos corpos mortos.
Enquanto um estudo da década de 1990 concluiu que esses humanos antigos consumiam os cérebros de seus inimigos, estudos posteriores destacaram a falta de marcas de dentes humanos nos crânios, enfraquecendo a hipótese do canibalismo. Para Marginedas, no entanto, todas as evidências “nos fazem pensar que é algo mais relacionado à violência e conflito do que a um ritual funerário”, disse ele à CNN nesta terça-feira (11).
Ele e sua equipe usaram microscópios eletrônicos para estudar os ossos, identificando marcas e cortes em 68% deles e demonstrando que foram feitos por humanos e não por processos naturais. Os ossos pertenciam a pelo menos 10 indivíduos — seis adultos e quatro jovens — que podem ter sido parentes, disse Marginedas, acrescentando que análises adicionais de DNA são necessárias para confirmar isso.
![Os pesquisadores usaram um microscópio eletrônico para estudar os ossos](https://www.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2025/02/europeus-comer-cerebro-fossil-3.jpg?w=1024)
Como eles morreram há tanto tempo, “é muito difícil dizer 100% que é um caso de canibalismo de guerra”, disse ele. “Durante a análise tafonômica (estudo dos processos sofridos pela matéria orgânica após a morte) da superfície de todos os ossos para encontrar qualquer tipo de marca que possa nos contar alguma história sobre o que aconteceu, identificamos que… os ossos dos braços e das pernas foram esquartejados e quebrados… para extrair e consumir a medula”.
Bill Schutt, zoólogo e autor de “Canibalismo: Uma História Perfeitamente Natural”, que não participou do estudo, disse à CNN que “este é um artigo muito bem escrito” e “um estudo realmente bom”. No entanto, ele alertou contra tirar conclusões definitivas de que este é um exemplo de canibalismo.
“Existem respostas alternativas para esta questão do que aconteceu naquela época”, disse ele, explicando que não sabemos o suficiente sobre a cultura Magdaleniana para dizer que eles eram canibais.
“Quem sabe o que essas pessoas estavam fazendo? Eles acreditavam que era respeitoso esmagar os crânios dos mortos ou removê-los?” disse Schutt. “Existem culturas onde os corpos são descarnados como parte dos ritos funerários”.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Primeiros europeus podem ter comido os cérebros dos inimigos, diz estudo no site CNN Brasil.