As análises que expõem as razões para a volta do Paraná à Segundona Estadual provocam de volta a velha lição do imortal Márcio Moreira Alves, tantas vezes adotada: o jornalista vê só e sempre o óbvio, não vê o essencial.
O jornalismo esportivo, então, com raríssimas exceções, é o que mais explora o óbvio, afastando-se do essencial, único capaz de oferecer uma conclusão próxima da verdade.
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Em análise padrão, culpam-se dirigentes por contratarem Argel como treinador, demorando para buscar Tcheco. Argumento fácil, cômodo, óbvio e sem base de verdade: Tcheco é outra mentira que as organizadas do Paraná impuseram como verdade. Está no mesmo baixo nível técnico de Argel.
Culpam os dirigentes pelas contratações de jogadores medíocres. Mas, como formar um time razoável, sem dinheiro e sem calendário, obrigando-os a buscar sobras de mercado, que aceitam jogar por três meses, por salário mínimo e para depois ficarem desempregados. Esses jogadores parecem peões de uma obra só. O essencial é que deve dirigir essa análise.
A nova queda do Paraná não me surpreendeu. Surpreso estaria se conseguisse manter-se no “Ruralzão”. A única explicação lógica é tratá-la como a continuidade do processo autodestrutivo.
A nobreza do Paraná iniciou a autodestruição
Anunciando o “Paraná Clube que já nasceu gigante”, a nobreza paranista é que iniciou essa autodestruição, já no dia da sua fundação, 19 de dezembro de 1989.
Pelos mais diversos motivos, a nobreza fundadora, pródiga e vaidosa, passou a gastar dinheiro para ganhar títulos estaduais e séries inferiores nacionais.
A irresponsabilidade e o interesse dos gastos eram tão grandes, que os nobres não perceberam a mudança social dos clubes associativos: quando os sócios da época do Pinheiros descobriram que o dinheiro associativo ia para o futebol, passaram a migrar para outras instituições sociais. Conta a lenda de que dos 40 mil sócios do Pinheiros, 60% eram de atleticanos e coxas.
O resultado é que o quadro associativo esvaziou-se, o dinheiro acabou e o que ficou foram imóveis, que transformaram-se em um presente de grego. Onerando o clube com impostos e funcionários, não geravam nenhum lucro. Imóveis, aliás, à exceção do Tarumã, gravados com cláusulas, que o tornavam e o tornam inalienáveis.
Hoje, a Vila Capanema só permanece na posse do Paraná, em razão da atuação idealista do saudoso advogado Mauro Nóbrega Pereira, sucedido na capacidade no idealismo por seu filho. Já, o de título de domínio da Kennedy e a de parte da Vila Olímpica pertencem mais ao Município de Curitiba.
Nesse período da nobreza, quando o processo destrutivo começou, o Paraná foi comandado por Aramis Tissot (1990-91), Darci Piana (1992-93), Ocimar Bolicenho (1994-95) e Ernani Buchmann (1996-97).
Quando esse grupo foi embora, o clube já tinha entrado nessa espiral destrutiva por não ter projetado o futuro. A dívida com o Banco Central começou na administração de Buchmann, hoje presidente da Academia Paranaense de Letras.
Abandonado pela nobreza, tomaram-no, como acontece com tudo o que é desprezado por quem o criou: Dilso Rossi, Enio Ribeiro, Aurival Correa, Aquilino Romani, Rubens Bohlen e Casinha, uma casta de curiosos, errantes e interesseiros. Já José Carlos Miranda, sendo de outra estirpe, e pego com a boca na botija, renunciou.
![Leonardo Oliveira.](/_next/image/?url=https%3A%2F%2Fwww.umdoisesportes.com.br%2Fmedia%2Fumdoisesportes%2F2025%2F01%2F27144308%2Fex-parana-clube-leonardo-oliveira-cargo-suburbana-1024x576.jpg&w=2048&q=75)
Até que surgiu Leonardo de Oliveira, tratando o Paraná como galinheiro, fez horrores: comprou, não pagou, vendeu, embolsou e rebaixou o clube do Brasileirão para a Série D, em três anos. E a torcida sempre o apoiou, reelegendo-o, inclusive. No sábado tem o segundo capítulo.