O relatório “Mortes Violentas de Mulheres e Meninas em Mato Grosso por razões de gênero 2024″, divulgado pela Polícia Civil, escancara a tragédia do feminicídio no estado, revelando que 89 crianças e adolescentes perderam suas mães para a violência doméstica em 2024. Das 47 mulheres assassinadas, 41 eram mães, deixando um rastro de dor e orfandade que transcende as estatísticas.
A violência doméstica não se limita à vítima fatal; ela se estende por todo o núcleo familiar, deixando marcas indeléveis. O relatório aponta que 17 crianças eram filhos biológicos dos próprios feminicidas, evidenciando o ciclo de violência que se perpetua entre gerações. Quatro crianças perderam ambos os pais, com o suicídio dos agressores após os crimes, um desfecho trágico que amplia a dimensão da perda. Nove mulheres foram mortas na frente dos filhos, como Gleiciane de Souza, assassinada em Jaciara, cujo crime ocorreu diante de seus filhos de 8 e 9 anos, expondo as crianças à brutalidade e ao trauma.
Apesar do medo e da insegurança, muitas mulheres buscam ajuda para romper o ciclo de violência. Em 2024, foram registradas 17.910 medidas protetivas de urgência, um aumento de 6% em relação a 2023. No entanto, a realidade é que apenas uma das 47 vítimas de feminicídio possuía medida protetiva, evidenciando a necessidade de maior acesso a esse mecanismo de proteção. Além disso, apenas 17% das mulheres denunciaram os autores dos assassinatos, demonstrando a importância de fortalecer os serviços de apoio e incentivar a denúncia.
Mato Grosso oferece diversas ferramentas de apoio às vítimas de violência doméstica, como unidades especializadas em oito cidades e 24 núcleos no interior, que oferecem atendimento e acolhimento às mulheres. O aplicativo SOS Mulher MT, com medidas protetivas online e botão do pânico virtual, facilita o acesso à justiça e à segurança. Em 2024, foram deferidos 5.223 pedidos de botão do pânico, acionado 649 vezes, demonstrando a efetividade da ferramenta em situações de emergência.
A violência contra a mulher é um problema complexo que exige ações conjuntas da sociedade e do poder público. É preciso romper o silêncio, buscar ajuda e construir um futuro sem violência, onde a vida e a dignidade das mulheres sejam preservadas.