O fechamento do Aeroporto de Heathrow, na Grã-Bretanha, deve afetar o sistema de aviação global por dias a um custo de dezenas de milhões de dólares, dizem especialistas, levantando questões sobre por que não havia um melhor planejamento de contingência no centro.
Especialistas ficaram chocados com a escala da interrupção, que não era vista desde a nuvem de cinzas da Islândia em 2010, enquanto tentavam estimar o custo e a extensão das repercussões causadas por um incêndio em uma subestação elétrica próxima que cortou o fornecimento de energia do aeroporto e sua energia de reserva.
Heathrow processa cerca de 1.300 voos por dia, de acordo com a Eurocontrol.
O incêndio, relatado às 23h, horário local, da quinta-feira (20), forçou os aviões a desviarem para aeroportos na Grã-Bretanha e na Europa, enquanto muitos voos de longa distância retornaram ao seu ponto de partida.
O custo do impacto pode totalizar cerca de 20 milhões de libras (US$ 26 milhões) por dia, disse Paul Charles, consultor de viagens, sem garantia de que Heathrow reabrirá no sábado, dada a vulnerabilidade do fornecimento de energia do aeroporto.
“Um backup deve ser à prova de falhas no caso de o sistema principal ser afetado. Heathrow é uma parte tão vital da infraestrutura do Reino Unido que deveria ter sistemas à prova de falhas”, disse Charles à Reuters.
O ministro da Energia, Ed Miliband, disse que o incêndio impediu o funcionamento do sistema de reserva de energia e que os engenheiros estavam trabalhando para implantar um terceiro mecanismo de reserva, acrescentando que o governo estava trabalhando para entender “quais lições, se houver, isso pode trazer para nossa infraestrutura”.
O fechamento deve ter efeitos colaterais que durarão dias em todo o mundo, deixando os passageiros das companhias aéreas presos.
As redes cuidadosamente coreografadas das companhias aéreas dependem de aviões e tripulações em locais específicos em horários específicos. Dezenas de transportadoras aéreas terão que reconfigurar suas redes às pressas para movimentar aviões e tripulações.
Energia de Reserva
“Mesmo que o aeroporto abra, esperamos, até o final de sexta-feira, haverá impacto na operação por vários dias, porque quando as aeronaves são imobilizadas em algum lugar longe de uma operação, elas ficam presas lá com as equipes que operam os voos e, claro, os clientes, até que essas equipes tenham saído para ter os períodos de descanso legalmente exigidos”, disse o consultor independente de transporte aéreo John Strickland.
“E se os aviões não retornarem, eles não poderão fazer os voos seguintes, o que significa que teremos cancelamentos nos próximos dias.”
Mesmo alguns minutos de atraso podem atrapalhar toda a programação do dia e causar atrasos em outras partes do sistema de voo.
Neste caso, especialistas estão se perguntando como Heathrow não tinha mais unidades de energia de reserva que pudessem ser trazidas ao local para reiniciar o fornecimento de eletricidade mais rapidamente.
“Não consigo lembrar de uma parte da infraestrutura crítica ter sido totalmente desligada por pelo menos um dia por causa de um incêndio. Não consigo pensar em nada comparável”, disse Tony Cox, consultor internacional de gerenciamento de risco.
Esta não é a primeira paralisação do setor de aviação na Grã-Bretanha que gerou preocupação no setor e na esfera política.
Uma indisponibilidade do sistema de controle de tráfego aéreo britânico NATS em 2023 custou mais de 100 milhões de libras (US$ 129 milhões), de acordo com uma revisão independente da Autoridade de Aviação Civil britânica, levantando preocupações sobre a estabilidade do sistema.
A interrupção do voo em Heathrow, especialmente se continuar após sexta-feira (21), deverá levantar alarmes semelhantes e levará a um amplo escrutínio público. Segundo a lei de direitos do consumidor, os clientes afetados não poderão buscar indenização das companhias aéreas, pois os atrasos não são culpa deles.
“Quem realmente vai pagar a conta…ainda não se sabe, porque será uma discussão complexa e pesada, certamente entre o aeroporto, as companhias aéreas, os fornecedores de eletricidade, as seguradoras, é claro, ninguém vai querer assumir a responsabilidade se for possível não assumir”, acrescentou Strickland.