Para tirar do papel o plano do governo de reforçar os estoques públicos de alimentos e poder ampliar sua arrecadação própria com serviços de armazenagem para terceiros, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai reformar sua maior unidade armazenadora e “abrir” espaço para guardar mais 120 mil toneladas de grãos, em Ponta Grossa (PR).
O governo vai aplicar R$ 55 milhões da Itaipu Binacional para realizar diagnósticos e desenvolver os projetos executivos desse e de outros três armazéns: em Rolândia e Cambé, ambos no Paraná, e Maracaju (MS). O recurso já será usado nas obras em Ponta Grossa, que deverão ser iniciadas em outubro, com previsão de conclusão até abril de 2026. Não haverá contrapartida financeira da Conab.
A unidade de Ponta Grossa tem capacidade para armazenar 420 mil toneladas de grãos, mas tem operado com apenas 300 mil toneladas devido à falta de investimentos e manutenção em gestões anteriores, disse o presidente da Conab, Edegar Pretto. “É uma unidade antiga, mas que receberá tecnologia de ponta e que voltará a operar na sua capacidade total”, afirmou ao Valor.
A troca de maquinários deve dobrar a capacidade de recepção de grãos — de 1,5 mil toneladas por dia para 3 mil toneladas diárias. Já a capacidade de expedição passará de 1,5 mil toneladas por dia para 2,5 mil toneladas. “Vamos multiplicar a capacidade de tempo de descarregamento”, disse Pretto.
Segundo o dirigente, a reforma é estratégica para os planos da Conab de fortalecer a formação de estoques. A unidade já recebeu parte das 10 mil toneladas de trigo gaúcho adquiridas no fim de 2024 e também armazena milho do estoque público. Pretto disse que o espaço também poderá estocar arroz, já que o cereal é produzido em mais larga escala no Sul do país.
“Estamos construindo essa base. Para fazer estoques temos que ter o que comprar e onde armazenar para cumprir nossa função de garantir o abastecimento nacional”, afirmou Pretto. “É um investimento na política social do governo, para aumentar a capacidade dos nossos armazéns, que ainda é um gargalo”, completou.
Localizado próximo ao Porto de Paranaguá e com acesso ao desvio ferroviário, o espaço também é usado para armazenar grãos de terceiros, como produtores rurais, cooperativas agrícolas e tradings. A Conab recebe pela estocagem e demais serviços para manter a qualidade dos produtos. A unidade é responsável por 60,5% da receita obtida pela estatal com a prestação desses serviços. Em 2024, foram R$ 23,5 milhões na estrutura de Ponta Grossa.
A reforma era uma reivindicação antiga das cooperativas paranaenses, disse Pretto. Em agenda no Estado em 2023, houve proposta para que a unidade fosse concedida à iniciativa privada, que faria os investimentos. No arranjo com a Itaipu, afirmou, a estrutura continua sob controle estatal.
Recentemente, a Conab firmou um acordo com o BNDES para se desfazer de algumas unidades e o investimento dos recursos arrecadados na reforma de outros armazéns. Ao considerar esse movimento e as obras bancadas por Itaipu, a estatal espera ampliar sua capacidade de armazenagem em 47%, das atuais 900 mil toneladas para 1,32 milhão de toneladas.
O convênio entre Conab, Itaipu e o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops/ONU) para a reforma e modernização dos armazéns graneleiros será assinado nesta quarta-feira (26/3). A estatal já destinou R$ 5 milhões para obras em andamento na unidade de Ponta Grossa para instalação de tombadores de cargas. Atualmente, o descarregamento de muitos caminhões é feito manualmente por funcionários com uso de rodos.
Além da mecanização da recepção de grãos, as obras incluem reforma do sistema de captação de pó com implantação de filtros de manga para melhora da qualidade do ar; troca e reforma dos tubos de movimentação de grãos da unidade; substituição dos motores e luminárias de ambientes confinados por equipamentos à prova de explosão; vedação das coberturas dos graneleiros com troca das telhas translúcidas, entre outras melhorias.
A unidade de Ponta Grossa entrou em operação em 1979.