As tarifas recíprocas prometidas por Donald Trump para o dia 2 de abril já afetou parte dos mercados ao redor do mundo, puxando bolsas europeias e asiáticas para baixo nesta segunda (31).
O coordenador-geral do Grupo de Análise de Estratégia Internacional em Defesa, Segurança e Inteligência da Universidade de São Paulo (DSI-USP) Alberto Pfeifer, destaca que essas taxas não terão apenas um impacto na esfera econômica, mas também na segurança nacional dos Estados Unidos e nas relações geopolíticas globais.
Estas medidas protecionistas, que afetarão as importações de países parceiros, têm implicações que vão além do comércio, podendo influenciar diretamente o conflito entre Rússia e Ucrânia e o processo de paz que Trump tem buscado mediar, afirma Pfeifer.
Conexão entre tarifas e o conflito na Ucrânia
A relação entre as tarifas americanas e o processo de paz russo-ucraniano é mais estreita do que pode parecer à primeira vista. A Rússia, que já enfrenta diversas sanções ocidentais, encontrou na China um importante aliado. No entanto, as novas medidas de Trump têm o poder de alterar esse cenário.
Neste domingo (30), Trump atacou Putin e ameaçou criar novas tarifas contra o petróleo russo. Pouco depois, mostrou um breve recuo e disse estar confiante na conclusão das negociações sobre o fim do conflito.
Uma possível paz entre Rússia e Ucrânia, potencialmente mais favorável a Moscou, “pode levar a uma reaproximação entre Rússia e Ocidente, alterando o balanço de poder tanto na relação global entre China, Rússia e EUA, quanto no Ocidente”, diz o professor.
Pfeifer destaca que, nesse cenário, a Rússia possivelmente se afastaria da China, se voltando mais para os Estados Unidos.
Implicações para a Europa e os EUA
Segundo o especialista, essa mudança geopolítica poderia marginalizar a Europa, que tem se posicionado contra a Rússia. Os Estados Unidos, por sua vez, buscariam acesso às reservas minerais e energéticas da Ucrânia, estabelecendo uma presença no território ucraniano, mas com garantias de segurança da Rússia.
Os americanos já negociam um acordo nesse sentido, que se aplicaria a todos os recursos minerais do país. Uma parte fundamental da proposta exige que as empresas ucranianas contribuam para um fundo de investimento conjunto entre EUA e Ucrânia
“O dia 9 de maio, data da celebração da vitória russa sobre as forças nazistas na Segunda Guerra Mundial, pode ser um momento-chave para Putin anunciar o fim ou a cessação das hostilidades com a Ucrânia, proclamando-se vitorioso no conflito.”, aponta Pfeifer.