Duas estátuas muito raras, quase em tamanho real, foram descobertas durante a escavação de uma imensa tumba em Pompeia.
Arqueólogos afirmam que as estátuas funerárias de mármore, representando um homem vestindo uma toga e uma mulher, lançam nova luz sobre o poder exercido pelas sacerdotisas na antiga cidade, que foi destruída quando o Monte Vesúvio entrou em erupção no ano 79 d.C.
Desenterrada durante escavações em andamento na tumba, localizada logo fora dos portões de entrada de Porto Sarno, a estátua da mulher é ligeiramente mais alta que a do homem ao seu lado.
Ela está adornada com joias luxuosas, incluindo brincos, pulseiras e anéis, além de um colar com um pingente em formato de lua crescente, semelhante aos usados pelas sacerdotisas do culto de Ceres — deusa da fertilidade, da agricultura e das relações maternas –, conforme informou o Parque Arqueológico de Pompeia em um comunicado anunciando a descoberta.
O pingente, chamado “lunula”, era usado por sacerdotisas para afastar forças malignas desde o nascimento até o casamento.
“O símbolo da lua crescente também tinha um significado atávico e primordial, relacionado à fertilidade da terra, à abundância e ao renascimento, influenciado pelos ciclos lunares”, segundo o artigo de pesquisa sobre a descoberta, publicado online.
A túnica da mulher é coberta por uma capa, e ela segura o que parece ser um rolo de papiro e folhas de louro – frequentemente usadas para purificar e abençoar espaços religiosos, dispersando a fumaça do incenso cerimonial pelo ambiente.
Os adornos da mulher sugerem que ela era mais importante do que o homem, segundo Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia. Isso pode indicar que eles não eram casados, e que o homem talvez fosse um sacerdote ou até mesmo filho dela.
A cidade de Pompeia foi soterrada por cinzas e vidro vulcânico após a erupção do Vesúvio, e arqueólogos vêm escavando o local desde o século XVIII, em um vasto projeto contínuo.
A escavação atual, chamada Projeto de Pesquisa Investigando a Arqueologia da Morte em Pompeia, começou em julho de 2024 e é liderada pelo arqueólogo espanhol Llorenç Alapont, em parceria com a Universidade de Valência e o Parque Arqueológico.
A área foi descoberta em 1998, durante a construção de uma linha de trem entre Nápoles e Pompeia. Até agora, já foram identificados mais de 50 locais de cremação.
“Esta campanha é uma oportunidade valiosa para expandir as atividades de pesquisa e valorização da área fora dos muros de Pompeia”, disse Zuchtriegel em um comunicado à imprensa enviado à CNN.
Descobertas anteriores na mesma área incluem restos mumificados. Em 2021, na necrópole de Porta Sarno, foi encontrado um túmulo com uma inscrição comemorativa dedicada a Marcus Venerius Secundio, um escravo público e guardião do Templo de Vênus.
“Graças à colaboração com a Universidade de Valência, que também foi responsável pela descoberta, há alguns anos, do Túmulo de Marco Venerio Secundio na mesma área, foi possível desenvolver um projeto multidisciplinar que envolveu diversos profissionais em diferentes etapas, incluindo arqueólogos, arquitetos, restauradores e antropólogos”, explicou Zuchtriegel.
As esculturas pertencem a uma grande classe de relevos funerários produzidos entre o final do século I a.C. e o século I d.C., segundo Alapont.
Os exemplares encontrados parecem datar da época da República Tardia, entre 133 e 31 a.C., de acordo com o artigo de pesquisa.
“No entanto, esse tipo de escultura é muito raro no sul da Itália. É ainda mais incomum encontrar relevos de sacerdotisas segurando seus objetos religiosos”, disse Alapont no comunicado. “É evidente que havia sacerdotisas de Ceres em Pompeia, mas esta estátua fornece novas evidências da importância desse culto na cidade.”
“Além disso, o culto de Ceres tem sido historicamente associado às classes populares. No entanto, a ostentação da figura feminina pode sugerir que o status de sacerdotisa ainda era reservado a mulheres de uma posição social relativamente elevada.”
As estátuas foram transferidas para a Palestra Grande, o maior espaço aberto de Pompeia, onde serão restauradas e exibidas na mostra “Ser Mulher na Pompeia Antiga”, que será inaugurada no Parque Arqueológico em 16 de abril.
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