Extintos há mais de 10 mil anos, os lobos-terríveis (do nome dire wolves, em inglês) formaram uma dinastia que imperou de forma absoluta nas Américas. Grandes predadores, de cerca de 80 kg, destacavam-se por suas garras e dentes afiados, capazes de dilacerar presas muito maiores, como bisões-antigos e mastodontes.
Agora, a espécie, que ficou famosa na série de TV Game of Thrones, sendo o símbolo da família Stark, foi restaurada em laboratório pela startup Colossal Biosciences. Os animais nasceram em outubro do ano passado, mas o feito inédito foi anunciado apenas nesta segunda-feira (7).
Assim, três novos espécimes foram desenvolvidos: Remus e Romulus (em homenagem aos irmãos Rômulo e Remo, mitologicamente ligados à fundação de Roma e que foram alimentados por uma loba), ambos com seis meses, e sua irmã menor, chamada Khaleesi (menção a uma das proganismistas da série).


De acordo com a empresa, os animais estão sendo tratados e nutridos em um centro de preservação da vida selvagem nos Estados Unidos. Contudo, a localização exata é mantida em segredo para evitar visitas de curiosos.
Jornalistas da revista Time visitaram os lobos e relataram que o comportamento deles é selvagem: apesar de filhotes, não integem com os humanos e mostram desconfiança até mesmo com os cuidadores.
Os lobos-terríveis, embora visualmente semelhantes aos lobos cinzentos e chacais de hoje em dia, tinham uma linhagem genética distinta. “Ao contrário dessas duas espécies que podem produzir descendentes híbridos com espécies relacionadas, não há dados atuais mostrando cruzamento entre lobos terríveis e outros canídeos”, diz a startup, em seu site.
Como o lobo-terrível foi clonado?


A Colossal explicou, em nota, que para clonar os lobos-terríveis, analisou o DNA preservado em fósseis de dentes datados de 13 mil anos e um crânio de 72 mil anos.
Em seguida, para decodificar o genoma dos animais, reescreveu o código genético do lobo cinzento com ferramentas de edição genética, como o CRISPR Cas-9 – mesma tecnologia utilizada para desenvolver soja mais resistente à seca – e usou cães domésticos como mães de aluguel.
A Colossal destacou, ainda, que estuda a clonagem de outros animais extintos há milhares de anos, como o dodô e o mamute-lanhoso, assim como o tilacino, popularmente conhecido como tigre-da-Tasmânia, cujo último exemplar data da década de 1930.
Para que ressuscitar animais extintos?
A empresa ressaltou que “ressuscitar” espécies em extinção tem uma função nobre, visto que o conhecimento adquirido com o processo pode ser usado para ajudar outras espécies que estão ameaçadas, como o lobo-vermelho.
Além disso, a startup anunciou em março deste ano que conseguiu copiar o DNA do mamute, conseguido copiar o DNA do mamute, algo que pode auxiliar no desenvolvimento de espécies mais resilientes de elefantes, capazes de resistir às alterações de habitat causadas pelas mudanças climáticas.
A prática, contudo, não tem passado alheia às críticas. Cientistas de fora alertam que há dilemas éticos envolvidos na clonagem de animais extintos. Os lobos usados como barrigas de aluguel, por exemplo, correm o risco de morrer no parto e reintroduzir animais extintos há milhares de anos pode causar grandes desequilíbrios em ecossistemas já estabelecidos.
Por outro lado, de acordo com o CEO da Colossal, Ben Lamm, e a diretora científica da empresa, Beth Shapiro, a pesquisa genética e a recriação desses animais é a forma mais eficaz de evitar a perda da biodiversidade.
*Com informações da Veja