BUENOS AIRES (Reuters) – No frigorífico Villarroel, nos arredores de Buenos Aires, trabalhadores habilmente abatem cortes de carne bovina argentina, popular em restaurantes de Xangai a Nova York. Mas as exportações de carne bovina do país estão caindo devido ao aumento dos custos com a valorização do peso local.
Nos primeiros quatro meses do ano, as exportações de carne bovina caíram quase 20% em relação ao mesmo período do ano anterior, para cerca de 255.000 toneladas, segundo a agência governamental Senasa. Os embarques para a China, principal compradora, sensível a preços, caíram de 203.000 toneladas no ano anterior para 137.000 toneladas.
Os importadores chineses — que absorveram dois terços das exportações de carne bovina da Argentina no ano passado — estão pagando cerca de US$ 5 por quilo, dizem os frigoríficos, reduzindo suas margens de lucro, já que os custos locais aumentaram junto com o peso.
“Não podemos competir”, disse Yahir Auad, gerente do grupo mais amplo do frigorífico, na fábrica nos subúrbios da cidade.
No mês passado, o presidente Javier Milei flexibilizou os controles cambiais de anos como parte de seu esforço para estabilizar a economia argentina, uma medida há muito buscada pelos investidores.
Mas um peso mais forte elevou os custos relativos e atingiu o que durante anos foi uma vantagem competitiva para algumas empresas argentinas, afetando exportadores e setores como o turismo, já que o país ficou mais caro em termos de dólar.
“Temos mais estabilidade cambial agora, mas essa estabilidade não nos beneficiou, exportadores”, disse Auad. “Custa US$ 4 ou US$ 4,50 (por quilo) para produzir a matéria-prima, aos quais temos que adicionar despesas e impostos.”
A difícil situação dos frigoríficos argentinos – que incluem a Minerva’s Swift, Quickfood, de propriedade da gigante brasileira Marfrig, e outros – representa um desafio para Milei, mesmo com a Argentina emergindo de anos de turbulência econômica, gastos excessivos e distorção de mercado.
“A carne bovina argentina é hoje a mais cara da América Latina em dólares”, disse Miguel Schiariti, diretor da câmara frigorífica Ciccra, citando o custo de um corte de filé mignon equivalente a cerca de US$ 4,70 na Argentina, contra US$ 3,60 no Brasil e US$ 3,50 no Uruguai.
“A indústria de processamento de carne e a indústria de produção irão à falência neste ambiente”, disse ele.
EMBALADORES DE CARNE DESFIAM FUNCIONÁRIOS
A Argentina — conhecida por suas fazendas, churrasqueiras e enorme consumo per capita de carnes — tem cerca de 53 milhões de cabeças de gado e está entre os cinco maiores exportadores globais de carne bovina, geralmente enviando cortes de maior qualidade para a Europa e América do Norte, e cortes mais baratos para a China.
No entanto, os exportadores estão encontrando cada vez mais dificuldades para colocar seus produtos no mercado internacional.
“Todos estão lutando para serem lucrativos”, disse Miguel Jairala, analista da Câmara de Exportadores de Carnes do ABC. A ABC afirma que alguns frigoríficos começaram a cortar pessoal, em alguns casos mais de 10% da força de trabalho.
“Os negócios não estão sendo fechados, com custos de produção altos em comparação aos preços pagos na China. O Brasil tem potencial para oferecer o mesmo produto, com qualidade até melhor que a nossa, a um preço mais competitivo”, disse Jairala.
Auad afirmou que os altos impostos, incluindo uma tarifa de 6,75% que as empresas tinham que pagar ao exportar, também contribuíram para os problemas enfrentados pelo setor. Grupos do setor estão pressionando o governo para reduzir os impostos.
A Secretaria de Agricultura da Argentina não respondeu a um pedido de comentário da Reuters.
“Tivemos que fechar nosso (outro) frigorífico de Las Heras porque não conseguíamos cumprir os contratos”, disse Auad. “Vendíamos a um determinado preço e nunca conseguíamos atender aos pedidos.”