Bagé recebe hoje o primeiro seminário binacional da olivicultura

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A cidade de Bagé, na fronteira sul do Rio Grande do Sul, abre nesta quinta-feira (04.12) as portas para o 1º Seminário Binacional de Olivicultura do Bioma Pampa, um encontro técnico e cultural que pretende aproximar produtores, pesquisadores e autoridades de Brasil e Uruguai. A proposta vai além do intercâmbio científico: a expectativa é que o evento funcione como um ponto de virada para a construção de uma cadeia mais robusta de azeites e oliveiras no país.

O encontro ocorre em meio a uma contradição que há anos preocupa o setor: o Brasil figura entre os maiores consumidores de azeite do mundo fora do Mediterrâneo, mas produz apenas uma fração ínfima do que consome. Dados do International Olive Oil Council (IOOC) mostram que o país demanda cerca de 100 mil toneladas por ano, enquanto a produção local cobre menos de 1% desse volume — tornando o mercado interno quase totalmente dependente de importações.

O Rio Grande do Sul concentra a maior parte da produção brasileira. São cerca de 6,5 mil hectares de oliveiras, sendo aproximadamente 5 mil hectares em idade produtiva. Mesmo assim, a safra de 2024 ficou em torno de 193,5 mil litros de azeite extraídos nos 25 lagares ativos no estado — um volume ainda muito distante da necessidade doméstica. O setor atribui esse descompasso a fatores climáticos, altos custos de implantação, desafios logísticos e à dificuldade de ampliar a escala num mercado dominado por grandes players internacionais.

Nesse cenário, o seminário binacional surge como uma tentativa de organizar forças e compartilhar soluções técnicas adaptadas ao Pampa — um bioma que reúne características únicas, com potencial reconhecido, mas ainda pouco explorado. A programação inclui debates sobre manejo, fenologia, fitossanidade, solos e clima, além de estratégias para melhorar produtividade e qualidade. A iniciativa é promovida pelo Ibraoliva, pela prefeitura de Bagé e por instituições brasileiras e uruguaias ligadas ao setor.

Pesquisadores destacam que a região Sul reúne condições favoráveis para azeites de padrão premium, segmento no qual o Brasil já colhe alguns resultados expressivos. O desafio, porém, é transformar qualidade em volume sustentável e, a partir daí, reduzir a dependência de importações e criar oportunidades de exportação. A Ibraoliva vê espaço para que a cadeia agregue valor com certificações, indicação geográfica e estímulos ao olivoturismo, estratégia adotada com sucesso em outros países produtores.

Analistas avaliam que o caminho brasileiro deve seguir a lógica dos nichos: azeites de qualidade elevada, produzidos em menor escala e voltados a consumidores mais exigentes. Essa rota, entretanto, exige investimento contínuo em pesquisa e tecnologia, políticas públicas estáveis e uma estratégia clara de mercado. Sem isso, alertam especialistas, o país corre o risco de manter uma produção marginal diante de um consumo que cresce ano após ano.

A primeira edição do evento em Bagé simboliza, para o setor, uma tentativa de reorganizar prioridades e construir uma visão comum para o futuro da olivicultura no Pampa. Caso os avanços técnicos se convertam em expansão produtiva, o Brasil pode começar a reposicionar seu papel na cadeia global de azeites — deixando a condição de grande importador para tentar, gradualmente, conquistar terreno como produtor relevante. O passo agora é transformar o entusiasmo em investimento e o potencial agronômico em competitividade real.

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