Por que camelos não bebem água o tempo todo, mesmo no deserto?

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Enquanto a travessia de um deserto sem água seria uma sentença de morte rápida para a fisiologia humana, os camelos encaram o desafio com indiferença. O que seria uma emergência biológica para nós, para eles é apenas rotina. Afinal, assim como zebras têm listras, os camelos também têm suas características únicas: as corcovas.

Esses curiosos animais são famosos por sua resistência, mas essa habilidade gera uma confusão comum: a ideia de que eles estocam água em suas corcovas como se fossem tanques de combustível. A realidade, no entanto, é muito mais complexa e fascinante. A sobrevivência do camelo não depende de um truque de mágica, mas de uma série de modificações fisiológicas extremas que a evolução refinou ao longo de milênios.

Por que camelos não bebem água o tempo todo, mesmo no deserto?

A resposta curta é que os camelos são máquinas biológicas de eficiência hídrica. Eles não bebem água o tempo todo porque seus corpos são projetados para não desperdiçá-la.

O primeiro mito a ser derrubado é o da corcova. Ao contrário do folclore popular, as corcovas não armazenam água, mas sim gordura. Esse tecido adiposo serve como uma reserva de energia vital. Quando o alimento e a água escasseiam, o animal metaboliza a gordura para obter nutrição.

Segundo especialistas, o fato de armazenarem a gordura em um único local (nas costas) em vez de distribuí-la pelo corpo ajuda a dissipar o calor, mantendo o animal mais fresco. Os camelos podem passar até seis ou sete meses sem beber água se houver hidratação suficiente na comida, mas em condições extremas de calor, eles ainda aguentam impressionantes duas semanas totalmente “a seco”.

Grupo de pessoas montadas em camelos no deserto
Grupo de pessoas montadas em camelos no deserto (Imagem: Hoeneisen/Pixabay)

Os “superpoderes” fisiológicos dos camelos

A verdadeira “mágica” acontece no nível celular e sistêmico. Para começar, os camelos têm uma tolerância térmica incrível. Enquanto nós, humanos, começamos a suar para resfriar o corpo assim que a temperatura sobe um pouco, os camelos possuem uma temperatura corporal flexível. Eles permitem que sua temperatura interna suba consideravelmente durante o dia (economizando água que seria usada no suor) e a deixam cair durante a noite fria do deserto.

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Além disso, eles são campeões em retenção de líquidos. Seus rins são extremamente eficientes, produzindo uma urina concentrada e espessa. As fezes são tão secas que podem ser usadas imediatamente como combustível para fogueiras. Já o nariz do camelo funciona como um desumidificador, retendo o vapor de água da respiração antes de exalar o ar.

Mesmo com tudo isso, talvez a adaptação mais curiosa esteja no sangue. Quando um mamífero normal desidrata, seu sangue engrossa, sobrecarregando o coração. No caso dos camelos, suas células sanguíneas (hemácias) têm formato oval, e não circular. Esse formato aerodinâmico permite que o sangue continue fluindo facilmente pelos vasos sanguíneos, mesmo quando o animal está severamente desidratado e o sangue está mais viscoso.

Camelos podem beber até 113 litros de água em poucos minutos

Quando finalmente encontram um oásis, os camelos não são nada tímidos. Essa mesma estrutura oval das células sanguíneas permite que elas se expandam drasticamente sem estourar (algo que mataria outros animais devido à mudança osmótica rápida). Graças a isso, um camelo sedento pode beber até 113 litros de água em apenas 13 minutos. É essa capacidade de reidratação explosiva, somada à conservação extrema, que permite que eles ignorem a sede enquanto atravessam as dunas mais áridas do planeta.

Olhar Digital

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