Galileu Galilei: o homem que revolucionou o céu com um tubo de lentes

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Na semana passada celebramos o Dia Nacional da Astronomia. A data é uma homenagem a Dom Pedro II, patrono da astronomia brasileira. Mas hoje, vamos lembrar daquele que abriu os olhos da humanidade para o Universo, que nos aproximou do Cosmos com um instrumento simples e inovador. Em 1609, ao apontar sua luneta para o céu, ele mudou para sempre a nossa relação com os astros, expandiu nossa visão do Cosmos e nos mostrou um Universo fascinante, repleto de belezas e mistérios, mas que nem todo mundo na época estava preparado para enxergar. Vamos falar de Galileu Galilei.

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[ Retrato de Galileu Galilei originalmente pintado em 1640 – Créditos: National Maritime Museum, Greenwich, London, Caird Collection ]

Galileu nasceu em Pisa, filho de um músico que o ensinou a desconfiar de verdades absolutas. Pensava em se tornar jesuíta, seu pai queria que ele fosse médico, mas ele acabou se apaixonando perdidamente pela Ciência. Estudou matemática, mergulhou em experimentos sobre queda dos corpos e desenvolveu aquilo que hoje chamamos de método científico: testar, comparar, questionar. Foi assim que, muito antes de revolucionar a astronomia, Galileu Galilei se tornou um cientista. Ele não aceitava respostas prontas. Queria ver com os próprios olhos. E foi justamente esse hábito de questionar que o levou a olhar para cima.

Quando surgiu a notícia de que artesãos holandeses haviam fabricado um tubo com lentes que aproximava objetos distantes, Galileu não perdeu tempo. Construiu sua própria versão — melhorada, claro. A luneta virou galileoscópio, com aumento superior e lentes cuidadosamente alinhadas. Mas foi sua decisão ousada que mudou tudo: enquanto o mundo usava o instrumento para espiar navios no porto, Galileu o apontou para o céu. Ninguém antes havia feito isso de forma sistemática. E naquele momento, um simples brinquedo de feirante se transformou no primeiro telescópio científico da história.

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[ Detalhe do telescópio de Galileu – Créditos: Florence, Istituto e Museo di Storia della Scienza ]

Foi como ganhar a visão depois de uma vida inteira de cegueira. 

Logo nas primeiras observações, Galileu percebeu que a Lua não era uma esfera perfeita, como ensinavam os filósofos desde Aristóteles. Ele viu montanhas, vales, crateras — um mundo acidentado, tão imperfeito quanto a própria Terra. Uma descoberta que desmontava o dogma do céu imutável e perfeito.

[ Ilustrações da Lua feitas por Galileu em Sidereus, Nuncius, publicado em Veneza em 1610 – Fonte: wikimedia.org ]

Depois, voltou sua luneta para Júpiter e percebeu pequenos pontos brilhantes ao redor do planeta. Observou por várias noites e descobriu que aqueles pontinhos mudavam de lugar. Eram luas. Luas girando ao redor de outro corpo que não a Terra. Uma evidência clara de que o céu era muito mais dinâmico do que imaginávamos e de que a Terra não era o centro do Universo. 

Galileu observou também algo intrigante ao redor de Saturno. Pareciam duas grandes luas muito próximas, depois pareceram orelhas. Mais tarde, simplesmente desapareceram e tornaram a aparecer no ano seguinte. O mistério permaneceu por décadas até Huygens enfim revelar se tratava de um sistema de anéis em torno de Saturno. Ele também viu que Vênus exibia fases como a Lua. Isso só era possível se Vênus orbitasse o Sol. Era uma prova direta do modelo heliocêntrico de Copérnico, que na época era considerado uma heresia.

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[ As fases de Vênus observadas por Galileu seriam a prova incontestável de que o planeta girava em torno do Sol e não da Terra – Fonte: wikimedia.org ]

Com sua luneta, Galileu constatou ainda que a Via Láctea não era uma nuvem difusa, mas formada por um número incontável de estrelas. Um oceano de sóis onde antes havia apenas poeira no céu. E ao apontar sua luneta para o Sol, o que provavelmente comprometeu sua visão, ele percebeu manchas escuras se movendo sobre sua superfície. O Sol tinha manchas. O céu mudava. O cosmos era vivo e dinâmico.

A cada noite, Galileu arrancava um segredo do céu — e cada segredo revelado era como uma marretada nos alicerces da do pensamento medieval, e ao mesmo tempo, um novo tijolo na fundação de uma nova ciência. E Galileu não queria guardar aquelas descobertas para si, ele queria compartilhar seu entusiasmo com o mundo. Mas nem todo mundo está preparado para o novo. 

Em 1610, Galileu Galilei publicou o Sidereus Nuncius, o Mensageiro das Estrelas, com seus resultados das observações iniciais e com uma defesa enfática do modelo heliocêntrico. O choque com a Igreja era inevitável. A Inquisição Romana abriu uma espécie de CPI para investigar o assunto, e concluiu que o tema era tolo e herético, por contrariar as escrituras. Para Galileu, a investigação terminou em pizza, mas só porque ele tinha bom relacionamento com o “centrão”, a elite da sociedade de Roma. Ainda assim, a Igreja proibiu Galileu de defender suas ideias publicamente. 

Anos depois, um de seus amigos,  Maffeo Vincenzo Barberini, se tornou o Papa Urbano VIII. Mas o que parecia uma boa notícia se tornou um pesadelo em 1632, quando Galileu publicou o polêmico Diálogo Sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo. Na obra, três amigos dialogam sobre o geocentrismo e o heliocentrismo, cada um defendendo sua visão de mundo. Só que, obviamente, Galileu favoreceu o discurso heliocêntrico. Como se não bastasse, para publicar este livro, Galileu deu um drible na censura, conseguiu o aval da inquisição e ainda incluiu um personagem tolo, quase patético, que defendia o geocentrismo com os mesmos argumentos que seu amigo, o Papa Urbano VIII. 

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[ Capa do livro “Diálogo Sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo” de Galileu Galilei – Fonte: wikimedia.org ]

Deu ruim! Galileu foi preso e julgado pela Inquisição. O pai da astronomia observacional, da física moderna, do método científico, um dos maiores gênios de sua época, no banco dos réus por fazer ciência… por defender aquilo que seus olhos viram. Aos 69 anos de idade, Galileu Galilei foi condenado. Num ato da mais hipócrita misericórdia, lhe foi oferecida a possibilidade de negar, diante da igreja, todas as suas ideias, todas as suas descobertas e assim ser punido apenas com uma prisão domiciliar pelo resto da vida. Caso quisesse seguir defendendo suas ideias “hereges”, certamente terminaria como Giordano Bruno.

Silenciaram sua voz… mas não suas ideias.

Mesmo em domiciliar, com tornozeleira eletrônica, e completamente cego (talvez por conta de suas observações solares), Galileu mantinha uma legião de discípulos que davam um jeito de visitá-lo para aprender e levar adiante seu conhecimento. Seus manuscritos cruzaram fronteiras, inspiraram Kepler, influenciaram Newton e acenderam a fagulha da ciência moderna.

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[ Galileu Galilei se ajoelha ao renegar suas descobertas diante da Igreja durante seu julgamento pela Inquisição – Fonte: wikimedia.org ]

Mais de quatro séculos depois, aquela paixão inaugurada por ele continua inspirando astrônomos profissionais e amadores em todos os cantos do planeta. Muitos acham que Galileu Galilei apenas apontou uma luneta para o céu, mas na verdade ele abriu nossas janelas para o Cosmos, nos permitindo enxergar aquilo que antes estava escondido diante de nossos olhos — e nos dando a chance de admirar cada vez mais a imensidão do Universo.

Olhar Digital

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