3I/ATLAS não é um cometa? Estudo traz debate sobre natureza do objeto

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Um estudo recente sobre o 3I/ATLAS – o terceiro objeto que veio de fora do Sistema Solar já detectado por aqui – levantou uma dúvida: ele seria mesmo um cometa ou poderia ser um asteroide? A questão surgiu após a análise de imagens que mostram comportamentos incomuns em sua superfície, dificilmente vistos em cometas.

O 3I/ATLAS é um visitante interestelar, o que significa que ele se formou em outra estrela e, por motivos ainda desconhecidos, foi lançado ao espaço até cruzar o caminho do Sol. Por ser algo extremamente raro, qualquer nova observação gera debates intensos.

As imagens analisadas no estudo mostram jatos de material sendo expelidos a partir de regiões específicas do objeto. Esse padrão levou alguns pesquisadores a sugerirem a presença de “vulcões de gelo”, um fenômeno conhecido como criovulcanismo, no qual gases e materiais congelados escapam do interior do corpo.

O cometa 3I/ATLAS parece ter jatos expelidos de sua superfície, que um novo estudo interpreta como um tipo de criovulcanismo. Crédito: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny

Embora não tão comuns, jatos e explosões não são inéditos entre cometas do Sistema Solar. Um exemplo é o 12P/Pons–Brooks, apelidado de “Cometa do Diabo”, descoberto em 2024. No caso do 3I/ATLAS, no entanto, a atividade chamou atenção por ocorrer em um objeto interestelar, com composição química de proporções fora do padrão.

Alguns chegaram a sugerir que o 3I/ATLAS poderia não ser um cometa, mas sim um asteroide ou até algo diferente das categorias tradicionais. No entanto, segundo o astrônomo amador Cristóvão Jacques, fundador do Observatório SONEAR, em Oliveira (MG), o estudo não propõe uma mudança de classificação. “Não dá para dizer que já temos uma conclusão. Vários estudos estão sendo feitos e publicados aos poucos, e ainda não existe uma resposta definitiva sobre a composição desse objeto”, disse ele em entrevista à Marisa Silva, apresentadora do programa Olhar Digital News nesta segunda-feira (15).

Jacques, que integra a Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), o Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG) e a Rede de Astronomia Observacional (REA), reforçou que o 3I/ATLAS continua sendo classificado como cometa, uma vez que apresenta coma e cauda – a nuvem de gás e poeira ao redor do núcleo e o rastro luminoso que se forma quando o objeto se aproxima do Sol, respectivamente.

MarisaSilva entrevistou o astrônomo amador Cirstóvão Jacques no Olhar Digital News desta segunda-feira (15), sobre o cometa interestelar 3I/ATLAS. Crédito: Captura de tela YouTube

“O que sabemos até agora é que ele tem uma composição interessante e diferente dos cometas do nosso Sistema Solar, o que já era esperado por ser um objeto de outro sistema planetário”, explica. “Mas isso não significa que ele deixe de ser um cometa.”

A comparação com outros visitantes interestelares ajuda a entender o debate. O primeiro deles, o 1I/‘Oumuamua, descoberto em 2017, foi classificado como asteroide justamente por não apresentar coma nem cauda. Já o segundo, o 2I/Borisov, identificado em 2019, era claramente um cometa.

O 3I/ATLAS se encaixa nessa segunda categoria, embora apresente características atípicas. Ele pode ser um cometa rico em metais, algo raro entre os objetos gelados do Sistema Solar, além da possível presença de criovulcanismo. “Muita coisa foi dita sobre possíveis anomalias, mas, na prática, ele não apresenta nada fora do esperado a ponto de justificar uma nova classificação”, afirma Jacques. Segundo o especialista, o excesso de especulações acabou chamando mais atenção do que os dados realmente permitem concluir.

O astrônomo destaca que o que pode mudar, no futuro, é o entendimento sobre os diferentes tipos de cometas. “Pode surgir uma subdivisão dentro da classe, como já aconteceu antes na astronomia”.

Cometa 3I/ATLAS, o terceiro objeto interestelar já detectado no Sistema Solar. Crédito: Cristóvão Jacques / Observatório SONEAR

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Especialista destaca “descoberta dos sonhos”

Ele lembrou o caso de Plutão, descoberto em 1930 e considerado planeta por cerca de 70 anos, até que a detecção de outros objetos semelhantes levou à criação da categoria de planeta anão. Um processo parecido ocorreu com Ceres, inicialmente classificado como planeta e “rebaixado” para asteroide.

No caso dos objetos interestelares, o principal desafio é a pequena amostra disponível. “Estamos observando esse tipo de objeto apenas pela terceira vez. É muito pouco para tirar conclusões mais amplas”, explica Jacques.

Para ele, a “descoberta dos sonhos” seria identificar a estrela ou o sistema planetário de onde o 3I/ATLAS se originou. “Isso permitiria entender melhor o ambiente em que ele se formou e comparar com o que observamos hoje, a partir das análises feitas na Terra.” Jacques reconhece, no entanto, que essa informação provavelmente nunca será determinada com exatidão. “Saber qual estrela específica deu origem a esse objeto é algo extremamente difícil, talvez impossível.”

Vera C. Rubin pode descobrir mais objetos interestelares

A expectativa é que esse cenário mude com o início das operações do telescópio Vera C. Rubin, no Chile. Segundo Jacques, a estimativa é que pelo menos um objeto interestelar seja descoberto por ano, o que ampliaria significativamente o número de exemplos disponíveis para estudo.

A aproximação do 3I/ATLAS com a Terra também gerou especulações exageradas. No ponto mais próximo, o objeto estará a cerca de 270 milhões de quilômetros do planeta, quase o dobro da distância entre a Terra e o Sol. “Essa menor distância não muda de forma significativa o nosso conhecimento sobre ele”, afirma o especialista. “Ela facilita as observações com telescópios, mas não representa um salto extraordinário no volume de informações.”

Representação artística do cometa 3I/ATLAS passando “próximo” da Terra (imagem meramente ilustrativa e fora de escala). Crédito: Gerada por IA/Gemini

Ele também nega boatos de que o cometa teria mudado de rota ou apresentado movimentos estranhos. “O 3I/ATLAS segue exatamente a órbita prevista, sem qualquer movimento anômalo detectado até agora.”

Com uma órbita hiperbólica, o objeto atravessará o Sistema Solar apenas esta única vez. De acordo com Jacques, após uma aproximação de Júpiter, no ano que vem, ele seguirá para o espaço interestelar, sem chance de retorno. “O 3I/ATLAS continuará sua jornada por bilhões de anos, até, eventualmente, passar próximo de outra estrela.”

Olhar Digital

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