O Ártico está passando por uma transformação rápida e silenciosa que intriga cientistas há décadas. Lagos inteiros, que existiam há milhares de anos, estão simplesmente desaparecendo da paisagem em questão de dias ou semanas, deixando para trás apenas crateras de solo úmido e vegetação em mudança.
O fenômeno do desaparecimento repentino
O sumiço dessas massas de água não é mágica, mas sim um sinal geológico preocupante. À medida que as temperaturas globais sobem, o solo congelado, conhecido como permafrost, começa a ceder. Esse solo atua como uma “tampa” impermeável que segura a água na superfície; quando ele derrete ou racha, a água escoa rapidamente para o subsolo, como se alguém tivesse tirado o ralo de uma banheira gigante.
Dados da NASA de 2005 já apontavam que, em certas regiões da Sibéria e do Alasca, o número de lagos diminuiu drasticamente. A pesquisa indica que o degelo do permafrost está criando canais de drenagem subterrâneos, acelerando o esvaziamento desses reservatórios naturais e alterando permanentemente o ecossistema local.
Os principais fatores identificados para esse fenômeno incluem:
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🌡️
Aquecimento do solo
O aumento da temperatura média enfraquece a camada de gelo subterrânea.
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💧
Formação de Taliks
Bolsões de solo descongelado que permitem a infiltração da água.
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📉
Erosão térmica
A água mais quente dos lagos derrete o permafrost ao redor e abaixo, acelerando o colapso.
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Mudança na vegetação
O crescimento de arbustos onde antes havia água altera a absorção de calor do solo.
A mecânica do degelo abrupto
Diferentemente do derretimento gradual que ocorre na superfície das geleiras, o que acontece no subsolo do Ártico é muitas vezes um processo de “degelo abrupto”. Esse mecanismo é mais agressivo e imprevisível. O permafrost é composto por terra, rochas e matéria orgânica mantidos juntos pelo gelo. Quando esse gelo derrete, a estrutura do solo colapsa, criando depressões irregulares no terreno.
Esse colapso cria caminhos novos e inesperados para a água. Em alguns casos, isso forma novos lagos temporários, mas, na maioria das observações recentes em áreas de permafrost descontínuo, o resultado final é a drenagem completa. A água migra para lençóis freáticos mais profundos ou flui para rios, secando a superfície. Isso transforma o que era um habitat aquático rico em uma tundra seca ou em áreas pantanosas de transição, forçando a fauna local a se adaptar rapidamente ou migrar.

Impactos ambientais e climáticos severos
A consequência mais alarmante desse processo não é apenas a mudança na paisagem física, mas o que é liberado na atmosfera. O permafrost armazena quantidades gigantescas de carbono orgânico — restos de plantas e animais congelados por milênios. Quando o solo descongela e os lagos drenam ou se formam, micróbios começam a decompor essa matéria orgânica, liberando gases de efeito estufa potentes.
O metano, especificamente, é uma preocupação central para a ciência climática, pois tem um poder de aquecimento muitas vezes superior ao do dióxido de carbono a curto prazo. O ciclo vicioso se estabelece: o planeta aquece, o permafrost derrete, lagos somem ou se alteram, mais gases são liberados, e o aquecimento se intensifica.

O futuro das paisagens polares
As projeções para as próximas décadas indicam que o Ártico se tornará muito mais verde e úmido em certas partes, mas significativamente mais seco em outras onde a drenagem prevalecer. A perda desses lagos afeta diretamente as comunidades indígenas que dependem da pesca e da caça, além de alterar as rotas migratórias de aves e mamíferos. A estabilidade do solo também é comprometida, ameaçando a infraestrutura construída sobre o que antes era solo sólido.
Enquanto pesquisadores continuam monitorando a região com satélites e expedições de campo, a mensagem é clara: o Ártico não é um bloco de gelo estático. Ele é um sistema dinâmico reagindo violentamente às mudanças de temperatura. Entender a velocidade com que esses lagos desaparecem é crucial para refinar os modelos de clima global e prever o quanto o nível dos oceanos e a temperatura global ainda podem subir neste século.
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