O novo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta um cenário de oferta folgada, mas estoques apertados para o mercado mundial de café na safra 2025/26. O órgão estima um superávit global de 4,988 milhões de sacas de 60 kg, acima do excedente de 3,760 milhões registrado em 2024/25, o que indica um ligeiro reforço da oferta em relação à demanda.
A produção mundial de café deve alcançar 178,84 milhões de sacas em 2025/26, alta de cerca de 2% frente às 175,316 milhões de sacas do ciclo anterior, em linha com as estimativas de que o mundo caminha para uma safra recorde ou próxima disso. O crescimento é puxado principalmente por ganhos em países asiáticos e africanos, como Vietnã, Indonésia e Etiópia, que compensam cortes em importantes produtores da América Latina.
Do lado da demanda, o USDA projeta consumo global de 173,852 milhões de sacas, avanço de 1,3% em comparação com as 171,556 milhões de 2024/25 e um novo recorde histórico de utilização do grão. Mesmo com superávit de quase 5 milhões de sacas, os estoques finais mundiais devem recuar de 21,307 milhões para 20,148 milhões de sacas, o que mostra um mercado relativamente ajustado: a produção cresce, mas o consumo acompanha de perto e impede formação de grandes “almofadas” de estoque.
Entre os principais produtores, o Brasil continua no topo, mas com revisão negativa. O USDA agora estima 63 milhões de sacas para 2025/26 (julho/junho), abaixo das 65 milhões projetadas em junho e também da estimativa anterior para 2024/25. A redução reflete principalmente incertezas climáticas em áreas de arábica e impacto de secas e ondas de calor recentes, embora outras fontes, como a Conab, trabalhem com números um pouco menores para a safra brasileira.
No Vietnã, segundo maior produtor mundial e referência em café robusta, a projeção é de 30,8 milhões de sacas para 2025/26 (outubro/setembro), ligeiramente abaixo da previsão anterior de 31 milhões, mas acima das 29 milhões registradas na safra 2024/25. A recuperação ocorre após problemas climáticos e de oferta nos últimos anos, o que ajuda a aliviar parte da pressão sobre o mercado de robusta.
A Colômbia, terceiro grande player do arábica, deve colher 13,8 milhões de sacas em 2025/26 (outubro/setembro). O número foi ajustado para cima em relação ao relatório de junho, que apontava 12,5 milhões, mas ainda fica abaixo das 14,8 milhões de sacas estimadas para 2024/25, após uma safra favorecida por chuvas em momentos-chave do ciclo.
Na prática, o quadro desenhado pelo USDA sugere um mercado internacional que não trabalha com escassez, mas também não sobra café a ponto de derrubar preços de forma abrupta. Produção e consumo sobem juntos, estoques caem lentamente e o ajuste fino fica por conta do clima nas principais origens e da força da demanda em grandes compradores como União Europeia e Estados Unidos.
Segundo especialistas, para o produtor brasileiro o recado é de cautela e planejamento:
- o mundo terá café suficiente, o que limita altas sustentadas apenas por falta de produto;
- ao mesmo tempo, estoques menores deixam o mercado sensível a quebras de safra em qualquer grande origem;
- diferenças regionais de qualidade, logística e câmbio seguirão determinando quem consegue capturar os melhores preços.
Em um cenário de superávit moderado e estoques enxutos, o diferencial virá menos do “tamanho da safra global” e mais da capacidade de cada país — e de cada produtor — de entregar café com qualidade, regularidade e competitividade de custo, aproveitando janelas de oportunidade que surgirem ao longo da safra 2025/26.










