A empreendedora cultural e trancista Diela Tamba Nhaque, natural da Guiné-Bissau e residente em Várzea Grande (MT), conquistou projeção nacional ao vencer o Expo Favela – O Desafio, concurso exibido no programa É de Casa, da TV Globo. A iniciativa contou com o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso (Sebrae/MT), que atua no fortalecimento do empreendedorismo periférico e racial no estado.
A vitória colocou Diela à frente de mais de 20 mil projetos inscritos em todo o país e garantiu à empreendedora o prêmio de R$ 100 mil. Mais do que o reconhecimento financeiro, o resultado simboliza a força de um negócio que une cultura, identidade e impacto social.
“As tranças e a nossa metodologia de formação são baseadas nas minhas raízes. Não ensinamos apenas a técnica de trançar o cabelo, mas como transformar essa arte em um negócio, com identidade e propósito racial. Nosso trabalho vai além da estética; é sobre resgate de autoestima, autonomia financeira e cuidado com a mulher como um todo”, afirma Diela.
Idealizadora do projeto D’jombai, que significa “encontro” em crioulo da Guiné-Bissau, a empreendedora utiliza o salão Diela Tranças Africanas, localizado em Cuiabá (MT), como espaço de valorização da cultura africana, geração de renda e capacitação profissional de mulheres na Grande Cuiabá e Várzea Grande. A formação oferecida inclui, além da técnica, conteúdos de gestão financeira, organização do negócio e relacionamento com clientes e parceiros.
Para o diretor Técnico do Sebrae/MT, André Schelini, o reconhecimento nacional evidencia o potencial transformador do empreendedorismo periférico. “O Sebrae Mato Grosso tem orgulho de apoiar iniciativas que nascem nas periferias e unem inovação, identidade cultural e impacto social. Nosso papel é capacitar esses empreendedores para que transformem boas ideias em negócios sustentáveis e competitivos”, destaca.
Ao falar sobre sua trajetória, Diela destaca o enfrentamento ao racismo como um dos maiores desafios e também como motivação para investir na educação. “Enfrentei racismo, preconceito e xenofobia. Muitas vezes chorei, mas entendi que precisava combater isso de forma autêntica. A força que encontrei foi investir na educação, formando trancistas empreendedoras, capazes de transformar suas realidades e levar esse conhecimento para a próxima geração”, relata.
Já o presidente da Central Única das Favelas de Mato Grosso (CUFA-MT), Anderson Zanovello, reforça o caráter coletivo da conquista e a visibilidade alcançada pelo estado. “Essa vitória não é apenas individual. É uma conquista da CUFA Mato Grosso, dos empreendedores, parceiros e de todos que acreditam que a favela é potência. Chegar à final e vencer mostra que Mato Grosso tem força no empreendedorismo periférico e pode realizar grandes feitos”, afirma.
Expo Favela
A trajetória da empreendedora está conectada à Expo Favela Innovation Brasil, iniciativa da Central Única das Favelas (CUFA), que conecta negócios periféricos a investidores, empresas e oportunidades de mercado. Em Mato Grosso, a ação conta com apoio do Sebrae/MT, ampliando o acesso à capacitação, redes de apoio e visibilidade nacional.
Com a regulamentação nacional da profissão de trancista já consolidada, Diela agora atua para que Mato Grosso avance na legislação estadual. Para ela, a vitória também carrega uma mensagem para outras mulheres negras. “A nossa cultura tem poder. Precisamos acreditar no nosso potencial, respeitar o processo e entender que ninguém começa grande. Quem ficou grande um dia começou pequeno”, finaliza.









