O plantio da safra brasileira de soja segue em ritmo avançado, mas ainda abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Até o momento, cerca de 94,55% da área prevista já foi semeada no País. Em 2024, esse índice era mais elevado, alcançando 97,36%, enquanto em 2023 estava em 88,14%. Na média dos últimos cinco anos, o avanço para esta época do calendário é de 94,36%, o que mantém a atual safra muito próxima do padrão histórico.
A diferença em relação ao ano passado reflete, sobretudo, a irregularidade das chuvas em algumas regiões produtoras e o comportamento do clima associado ao resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Esse cenário confirma a atuação de um episódio de La Niña, ainda que de intensidade fraca, neste início de ciclo.
As informações mais recentes indicam que o Pacífico apresenta temperaturas abaixo da média, sinalizando que o resfriamento atingiu seu pico entre o fim de 2025 e o início de 2026. A tendência, no entanto, é de enfraquecimento gradual desse padrão ao longo dos próximos meses, com possível transição para uma condição de neutralidade a partir de janeiro.
Enquanto o resfriamento persistir, os efeitos típicos do La Niña seguem no radar dos produtores, especialmente no Centro-Sul do País. A principal preocupação está relacionada à possibilidade de corte antecipado das chuvas e à ocorrência de veranicos — períodos curtos de estiagem dentro da estação chuvosa — durante janeiro e fevereiro, fase crítica para o desenvolvimento inicial da soja.
Regiões como o oeste paulista, o sul de Goiás e partes do Mato Grosso do Sul costumam ser mais sensíveis a esse padrão climático. Nessas áreas, mesmo intervalos relativamente curtos sem precipitações podem comprometer a emergência das plantas, o estabelecimento das lavouras e, mais adiante, o potencial produtivo.
Apesar disso, técnicos ressaltam que, até o momento, o cenário não é generalizado. Em grande parte do País, o avanço do plantio foi possível graças a janelas favoráveis de umidade, permitindo que a semeadura se mantivesse dentro do calendário agronômico considerado adequado.
As projeções indicam que, caso as temperaturas do Pacífico comecem a subir de forma consistente ao longo do primeiro trimestre, o Brasil pode entrar rapidamente em uma fase de neutralidade climática. Em um cenário mais adiante, não está descartada a formação de um novo episódio de El Niño no segundo semestre.
Essa eventual mudança traz implicações relevantes não apenas para a soja, mas para todo o planejamento agrícola. Um El Niño tende a provocar aumento das chuvas no Sul do País e redução dos volumes no Norte e Nordeste, além de elevar o risco de excesso hídrico e maior pressão de doenças fúngicas em determinadas regiões.
Embora o foco imediato esteja sobre a safra de verão, uma possível transição climática também pode influenciar o inverno de 2026. Com temperaturas mais elevadas e menor rigor climático, culturas que dependem de maior acúmulo de horas de frio — como trigo, cevada e outras de clima temperado — podem ser impactadas.
Diante desse quadro, especialistas recomendam atenção constante às atualizações climáticas e cautela nas decisões de manejo. Com o plantio da soja próximo da conclusão, o comportamento das chuvas nos próximos meses será determinante para consolidar o potencial produtivo da safra e reduzir riscos em um ciclo que começa sob influência direta do clima.










