Disputa comercial emperra acordo de tecnologia entre EUA e Reino Unido

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O governo do Reino Unido afirma que as negociações sobre um acordo tecnológico com os Estados Unidos continuam em andamento, mesmo após o pacto ter sido colocado em espera pelo governo americano. O acordo havia sido anunciado como histórico durante a visita do presidente americano Donald Trump ao país, em setembro. E envolvia cooperação em áreas estratégicas como inteligência artificial (IA) e computação quântica.

O impasse surgiu após Washington pausar o avanço do chamado Tech Prosperity Deal, alegando que Londres não tinha avançado o suficiente em compromissos comerciais mais amplos. Entre os pontos de atrito estão regras britânicas para o setor digital e normas de segurança alimentar (temas que extrapolam a tecnologia, mas travaram o acordo).

Acordo de tecnologia entre EUA e Reino Unido virou refém de disputas comerciais mais amplas

O Tech Prosperity Deal foi apresentado como um marco na relação entre EUA e Reino Unido. Na prática, ele previa cooperação em áreas como IA, tecnologias quânticas e energia nuclear avançada, além de estímulo a parcerias entre empresas e centros de pesquisa dos dois países. O discurso político falava num salto estratégico para ambos os lados.

Acordo bilionário entre EUA e Reino Unido é adiado em meio a divergências regulatórias (Imagem: Joshua Sukoff/Shutterstock)

O problema é que o acordo foi formalizado como um memorando de entendimento. Ou seja, não era automaticamente obrigatório. O próprio texto deixava claro que ele só entraria em vigor se houvesse “progresso substancial” num pacto comercial mais amplo, o Economic Prosperity Deal, assinado meses antes. Esse detalhe, pouco destacado na época, agora virou o centro da crise.

Segundo o governo americano, esse progresso não aconteceu. Autoridades dos EUA avaliam que o Reino Unido não cumpriu promessas de reduzir barreiras comerciais, especialmente em dois pontos sensíveis. O primeiro é o imposto sobre serviços digitais, que incide principalmente sobre grandes empresas de tecnologia americanas. O segundo envolve regras de segurança alimentar, que limitam a entrada de produtos agrícolas dos EUA no mercado britânico.

Diante disso, Washington decidiu usar o acordo tecnológico como instrumento de pressão. Ao pausar sua implementação, o governo Trump sinalizou que avanços em tecnologia e inovação estão condicionados a concessões comerciais mais amplas. É uma estratégia que vem sendo repetida em outras negociações internacionais.

Do lado britânico, o esforço tem sido evitar a narrativa de rompimento. O gabinete do primeiro-ministro Keir Starmer afirma que as conversas seguem “ativas” em vários níveis do governo e insiste que o acordo não está morto. O discurso oficial tenta ganhar tempo e preservar o pacto como um objetivo ainda viável.

reino unido eua
Reino Unido tem evitado a narrativa de rompimento; EUA deu a entender que a porta não foi fechada (Imagem: Lensw0rId/Shutterstock)

Essa leitura é reforçada por sinais vindos da própria Casa Branca. O assessor científico do governo americano, Michael Kratsios, afirmou que os EUA esperam retomar o trabalho conjunto assim que o Reino Unido avançar na implementação do acordo econômico mais amplo. Em outras palavras: a porta não foi fechada.

Enquanto isso, os investimentos anunciados ao acordo seguem, ao menos por ora, intactos. Empresas como Google, Microsoft e Nvidia prometeram mais de US$ 40 bilhões (cerca de R$ 218 bilhões) em projetos ligados a IA e data centers no Reino Unido. O entendimento atual é que esses planos não dependem diretamente do avanço imediato do pacto entre os governos.

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Analistas britânicos avaliam que o impasse pode ser mais político do que estrutural. É uma forma de pressão dentro de negociações maiores. E esse cenário ganha ainda mais peso quando se observa o contexto internacional. Os EUA também têm endurecido o discurso contra a União Europeia, ameaçando sanções a empresas europeias por regulações digitais consideradas “discriminatórias”. 

Nesse tabuleiro maior, o acordo com o Reino Unido deixa de ser apenas sobre tecnologia e passa a refletir uma disputa global sobre comércio, regulação e poder econômico.

(Essa matéria usou informações de BBC, The Guardian e The New York Times.)

Olhar Digital

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