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Conforme noticiado pelo Olhar Digital, a sonda MAVEN, que orbita Marte há mais de 11 anos, deixou de responder aos comandos da NASA no início do mês, e o contato não foi restabelecido até agora. Nos últimos dias, isso passou a ser associado nas redes sociais ao cometa 3I/ATLAS – como se o objeto interestelar tivesse alguma responsabilidade sobre o problema.
Postagens sugerem que ele teria interferido no funcionamento da espaçonave ou até provocado a anomalia. Apesar do tom alarmista, não há qualquer evidência científica de que uma coisa tenha relação com a outra.

Em resumo:
- A sonda MAVEN, da NASA, perdeu contato com a Terra quando se escondeu atrás de Marte;
- Antes da ocultação, o funcionamento estava normal;
- Boatos nas redes sociais associaram o problema ao cometa interestelar 3I/ATLAS, sem qualquer evidência válida;
- A NASA explica que falhas temporárias de comunicação com espaçonaves são comuns;
- Antes da anomalia, a MAVEN observou o cometa e coletou dados;
- Especialistas reforçam que coincidência temporal não indica relação causal científica.
A MAVEN deixou de responder aos comandos da Terra no último dia 6, após atravessar um período conhecido como ocultação, quando Marte se posiciona entre a espaçonave e a Terra, bloqueando temporariamente a comunicação por rádio. Segundo a NASA, o contato deveria ter sido retomado assim que essa fase terminasse – o que não aconteceu.
Os dados enviados pela MAVEN dois dias antes da interrupção indicavam que todos os sistemas estavam funcionando normalmente. Não havia sinais de falhas de energia, problemas de orientação ou danos aos instrumentos. Desde então, equipes da missão e da Deep Space Network, a rede de antenas usada para se comunicar com sondas no espaço profundo, vêm tentando restabelecer o contato e analisando a telemetria disponível.

Esse tipo de problema, embora preocupante, não é inédito. Missões espaciais frequentemente enfrentam falhas temporárias de comunicação, causadas por fatores como orientação incorreta das antenas, reinicializações automáticas do sistema ou interferências naturais. Em muitos casos, o contato é recuperado após dias ou semanas de tentativas.
Mesmo assim, a coincidência chamou a atenção. Pouco antes da perda de contato, a MAVEN havia participado de uma campanha científica especial para observar o cometa interestelar 3I/ATLAS. Durante cerca de dez dias, a partir de 27 de setembro, seus instrumentos foram ajustados para estudar o objeto, considerado extremamente raro por ser apenas o terceiro corpo celeste já avistado que se formou fora do Sistema Solar.
Usando a câmera ultravioleta (IUVS), a sonda registrou imagens em diferentes comprimentos de onda, permitindo identificar gases liberados pelo cometa. Entre eles estava o hidrogênio, elemento fundamental para entender a composição da coma (a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo do cometa). Esses dados ajudam cientistas a comparar o 3I/ATLAS com cometas nativos.
Definitely a massive alien space ship. And now it probably destroyed a space object made on earth which got too close. Maybe its starting to get pissed off?!?
— jupiter (@Avirapo) December 17, 2025
As observações também permitiram medir a proporção entre hidrogênio comum e deutério, uma informação importante para investigar a origem do objeto e o ambiente químico em que ele se formou. Quando o cometa passou relativamente mais próximo de Marte, instrumentos ainda mais sensíveis mapearam outras espécies químicas presentes ao seu redor, ampliando o valor científico da campanha.
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Foi justamente essa proximidade temporal que alimentou teorias conspiratórias. Nas redes sociais, alguns usuários sugeriram que o 3I/ATLAS teria enviado sinais à MAVEN, alterado sua órbita ou até causado sua suposta “destruição”. Comentários desse tipo chegaram a afirmar que a NASA estaria escondendo informações sobre uma possível nave alienígena.
Essas alegações, no entanto, não encontram respaldo na ciência. O 3I/ATLAS não chegou perto da MAVEN nem de Marte a ponto de causar qualquer interação física. Objetos interestelares passam pelo Sistema Solar a velocidades altíssimas, sem representar ameaça para planetas ou espaçonaves. Além disso, cometas não emitem sinais artificiais nem possuem capacidade de interferir em sistemas eletrônicos.
Outro ponto importante é que a MAVEN não está confirmadamente perdida. A NASA não declarou o fim da missão e continua tentando restabelecer o contato. Problemas de comunicação são tratados com cautela justamente porque, em muitos casos, a espaçonave permanece operacional, mas temporariamente incapaz de transmitir dados.

Também não há qualquer indício de que a campanha de observação do 3I/ATLAS tenha colocado a sonda em risco. Redirecionar instrumentos para observar outros alvos é uma prática comum em missões espaciais e segue protocolos rigorosos de segurança. A própria NASA destacou que os dados coletados antes da falha indicavam operação normal.
Especialistas ressaltam que ligar eventos sem relação direta é um erro comum em ambientes de desinformação. A coincidência no tempo não significa causalidade. Enquanto o cometa interestelar é um objeto natural, estudado à distância, a perda de contato com a MAVEN envolve fatores técnicos internos à missão.
Em resumo, não existe qualquer evidência de que o 3I/ATLAS tenha “cortado” a comunicação da NASA com a MAVEN. A associação surgiu apenas em especulações nas redes sociais, sem base científica. Até o momento, o que se sabe é que a sonda enfrentou uma anomalia ainda sob investigação, e que o cometa segue sendo apenas um visitante raro e inofensivo, observado para ampliar nosso conhecimento sobre o Universo.









